Dotado por Deus com o atributo superior da inteligência, tem buscado o homem conhecer o mundo em que vive e o Universo de que é ínfima parte. Limitado, porem, é ainda o alcance de sua inteligência, e o principio das coisas lhe e vedado. Em encarnações sucessivas, entretanto, com a própria aplicação na busca incessante de novos conhecimentos, ele a vai desenvolvendo e adquirindo também dignificantes virtudes morais, que lhe granjeiam merecimento a outorgas divinas cada vez mais altas. Assim progride o Espirito penetrando, pouco a pouco, os segredos do Universo e aproximando-se dos mistérios das origens.
Essa a perspectiva de esperança que nos traz a consoladora Doutrina dos Espíritos: Não é dado ao homem conhecer o princípio das coisas, ainda, porque "(...) Deus não permite que ao homem tudo seja revelado neste mundo," (01) porém, é certo que "o véu se levanta a seus olhos, à medida que ele se depura; mas para compreender certas coisas, são-lhe precisas faculdades que ainda não possui." (02) Mesmo através dos grandes progressos da ciência, o homem ainda estará limitado. "A ciência lhe foi dada para o seu adiantamento em todas as coisas; ele, porém, não pode ultrapassar os limites que Deus estabeleceu. (...)" (03).
Além da Ciência, que é a fonte dos conhecimentos que ele deve adquirir com o próprio esforço de pesquisa, aplicando a inteligência, a lógica dos raciocínios e os métodos experimentais, tem o homem na Revelação outra fonte para acrescer os seus conhecimentos. Deus permite que essa revelação lhe seja feita por intermédio de Espíritos Superiores, no domínio exclusivo da Ciência Pura, isto é, sem quaisquer objetivos utilitaristas, aplicações práticas ou tecnológicas. "Dado é ao homem receber, sem ser por meio das investigações da Ciência, comunicações de ordem mais elevada acerca do que lhe escapa ao testemunho dos sentidos? - Sim, se o julgar conveniente, Deus pode revelar o que à Ciência não é dado apreender." (04)
Que pode, pois, valendo-se dessas duas fontes de informação, já o homem saber sobre a constituição do Universo? A Ciência limitou se a considerar como únicas realidades existentes a matéria e a energia. Aprofundando-se, entretanto, no seu conhecimento chegou à conclusão de que estão de tal modo e tão estreitamente relacionadas que representam, em verdade, duas expressões de uma só e mesma realidade, não sendo a matéria mais do que energia condensada ou concentrada, limitada em sua força e dinamismo próprios, verdadeiramente escravizada, encerrada em âmbitos restritos para formar as massas densas dos corpos materiais. Inversamente, em determinadas condições e a matéria atingida em sua massa, sofre desconcentrarão, descondensa-se, desintegra-se, libertando energia em radiações diversas de natureza corpuscular.
Há sempre lado a lado, no Universo, matéria densa e energia livre em interações recíprocas, que condicionam os dois processos inversos de condensação e de libertação de energia. Enorme já é o acervo de conhecimentos, que, sobre esse aspecto do Universo, a Ciência e a tecnologia permitiram ao homem acumular, mas que escapa, evidentemente, aos objetivos deste Resumo. Entretanto - e é isto o que nos cabe assinalar aqui -, não considerou a Ciência, na constituição do Universo, senão o elemento material, quer em seu estado denso, quer em suas manifestações energéticas. Não procedeu assim a Revelação. Esta ensina que ha fundamentalmente dois elementos gerais no Universo: o elemento material - bruto e o elemento espiritual - inteligente.
Mas com uma particularidade importantíssima, referente ao elemento material: este não abrange somente as formas densas, visíveis e tangíveis, dotadas de massa e ponderabilidade, extensão e impenetrabilidade, mas também estados sutis, não acessíveis aos sentidos, em que desaparecem a massa tangível e a ponderabilidade e surge a característica penetrabilidade, em relação à massa densa. Vejamos o que responderam os Espíritos às indagações de Kardec: "Define-se geralmente a matéria como sendo - o que tem extensão, o que e capaz de nos impressionar os sentidos, o que e impenetrável. São exatas essas definições? Do vosso ponto de vista, elas o são, porque não falais senão do que conheceis. Mas a matéria existe em estados que ignorais. Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma impressão vos cause aos sentidos. Contudo, é sempre matéria. Para vós, porém, ,não o seria. "Que definição podeis dar da matéria? - A matéria é o laço que prende o Espírito; e o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação. (...) (05)
"Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito? - Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo como elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, não haveria razão para que também o Espírito não o fosse. Está colocado entre o Espírito e a matéria; é fluido, como a matéria é matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do Espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas conheceis uma par te mínima. Esse fluido universal ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá. (...)" (06)
Estas passagens de "O livro dos Espíritos", especialmente a ultima, de nº 27, são bastante elucidativas, quando não se tem o espírito escravizado aos preconceitos científicos materialistas. Tudo no Universo procede de Deus - suprema potência criadora. Deus criou o fluido universal ou matéria cósmica, que enche o espaço infinito e é, verdadeiramente, o elemento primitivo, a partir do qual se forma tudo o que no Universo é material: os mundos e todos os seres. Estes são a concretização das idéias divinas, por força da Sua onipotente vontade. Deus criou também o espírito, elemento inteligente, o qual é submetido a longa elaboração através dos diversos reinos da Natureza. No contato com minerais, vegetais e animais, o princípio inteligente recebe impressões que, pela repetição, vão-se fixando, dando origem a automatismos, reflexos, instintos, hábitos, memória, e acabam por integrar-se em individualidades conscientes, dotadas de razão e vontade, livre-arbítrio e responsabilidade, destinadas a progredir até que adquiram pureza e perfeição que as aproximam da Inteligência Suprema.
Então, Espíritos puros e perfeitos, que adquiriram com a perfeição um profundo conhecimento das leis universais, possuindo também os mais elevados sentimentos e excelsas virtudes, detentoras de sentidos e poderes espirituais superiores, as idéias divinas tornam-se-lhes perceptíveis, são-lhes transmitidas e, executores que podem ser da Suprema Vontade, concretizam-nas em formas materiais, elaborando mundos e presidindo neles ao desabrochar da vi da. Tornam-se, assim, colaboradores de Deus na obra da Criação. Portanto, a idéia criadora procede de Deus e pode surgir no Espírito.
Só o Espírito pode conceber idéias. A idéia toma forma pela ação da vontade divina ou do Espírito sobre o fluido universal que, pela sua natureza intermediária entre o Espírito e a matéria, está apto a receber a influência daquele, transmitindo-a a esta. A importância desse fluido universal na constituição do Universo pode-se bem aquilatar nas respostas dadas pelos Espíritos às indagações de Allan Kardec constantes umas em "O Livro dos Médiuns", outras na obra básica ]á citada.
1º) O fluido universal não é uma emanação da divindade.
2º) É uma criação divina, como tudo que há na Natureza.
3º) Fluido universal é também um elemento universal: "(...) é o princípio elementar de todas as coisas". (11) 4º) É o elemento do fluido elétrico.
5º) Para se encontrar o fluido universal na sua simplicidade absoluta, é preciso ascender aos Espíritos puros. No nosso mundo, ele está mais ou menos modificado, para formar a matéria compacta que nos cerca.
6º) O estado de simplicidade absoluta que mais se lhe aproxima é o do fluido a que chamamos fluido magnético animal. (11)
A Ciência considera as seguintes propriedades da matéria:
a) Massa: "(...) quantidade de matéria de um corpo.(...) (13)
b) Extensão é a porção do espaço ocupada pela matéria. Toda matéria ocupa um determinado lugar no espaço.
c) Impenetrabilidade: "Duas porções de matéria não podem, ao mesmo tempo, ocupar o mesmo lugar no espaço. (...)" (14)
d) inércia: "Quando um corpo, formado naturalmente por matéria, está em repouso, é necessário uma força para colocá-lo em movimento. Se o corpo estiver em movimento, é necessário uma força para alterá-lo ou fazer o corpo parar. (...)" (13)
e) divisibilidade: "(...) Podemos dividir um corpo ou pulverizá-lo ate certo limite. (...)" (14)
"As partículas são formadas de partículas menores, chamadas átomos" (14) É interessante definir, também, que "Matéria é tudo o que possui massa e extensão. Corpo é uma porção limitada da matéria e Substâncias são as diferentes espécies de matéria. (...)" (12) A matéria tal como e conceituada pela Ciência é ponderável, isto é, pode ser pesada.
O fluido universal, apesar de desempenhar "(...) o papel intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita (...)" (06) e podendo, "(...) de certo ponto de vista, ser lícito classificá-lo com o elemento material (...)" (06), é imponderável. É uma das propriedades especiais de que nos falam os Espíritos nos ensinos da Codificação. Com relação a outra propriedade da matéria, vejamos o que Kardec nos apresenta em "O Livro dos Espíritos":
"A matéria é formada de um só ou de muitos 'elementos? De um só elemento primitivo. Os corpos que considerais simples não são verdadeiros elementos, são transformações da matéria primitiva." (07) "Donde se originam as diversas propriedades da matéria? - São modificações que as moléculas elementares sofrem, por efeito da sua união, em certas circunstâncias." (08) "A mesma matéria elementar é suscetível de experimentar todas as modificações e de adquirir todas as propriedades? - Sim, e é isso que se deve entender, quando dizemos que tudo esta em tudo! {...) Não parece que esta teoria dá razão aos que não admitem na matéria senão duas propriedades essenciais : a força e o movimento, entendendo que todas as demais propriedades não passam de efeitos secundários, que variam conforme a intensidade da força e a direção do movimento? - É acertada essa opinião. Falta apenas acrescentar: e conforme à disposição das moléculas, como o mostra, por exemplo, um corpo opaco, que pode tornar-se transparente e vice-versa." (09)
Finalmente, completando o assunto sobre as propriedades da matéria, Allan Kardec pergunta aos Espíritos superiores : "As moléculas tem forma determinada? - Certamente, as moléculas têm uma forma, porém, não sois capazes de apreciá-la. Essa forma é constante ou variável? - Constante a das moléculas elementares primitivas; variável a das moléculas secundárias, que mais não são do que aglomerações das primeiras. Porque, o que chamais molécula longe ainda esta da molécula elementar." (10)
Estas últimas afirmações dos Espíritos, que Kardec registrou com absoluta fidelidade, constituem admirável antecipação das verdades sobre a descontinuidade da matéria e a sua unicidade, a primeira já totalmente provada experimentalmente pela Ciência e a segunda admitida por ela como inteiramente provável. De fato, embora se considerem hoje, na base da constituição da matéria - como conseqüência de notáveis investigações experimentais da Ciência - além das moléculas e dos átomos, numerosas outras partículas, de modo que a nomenclatura aplicada a essas partículas ou corpúsculos incluem outras denominações, tais como hádrons e léptens , subdivididos os hádrons em mésons e bárions ( incluindo os bárions os neutrons e prótons dos núcleos atômicos) e os léptons em neutrinos, muons e elétrons.
Ao tempo em que Kardec escreveu, entretanto, as partículas consideradas como às menores porções das substâncias chamavam-se mesmo moléculas, eram as moléculas constituintes das substâncias simples, formadas pela união, dois a dois, dos átomos de um único elemento químico (como o gás oxigênio representado pela fórmula O2, o gás hidrogênio H2, o gás cloro Cl2 etc. ) e as moléculas integrantes das substâncias compostas, por sua vez formadas pela combinação de átomos de dois ou mais elementos, em determinadas proporções (como o gás clorídrico HCl, o vapor de água H2O, o gás carbônico CO2, o ácido sulfúrico H2SO4, etc.).
Allan Kardec não podia, portanto, empregar outro termo senão moléculas para designar as menores partículas das substâncias, tanto as que representam a matéria densa, como aqueles estados sutis da matéria que derivam diretamente do fluido universal, que é o próprio fluido elementar primitivo.
Entretanto - sem a nomenclatura que fornece os termos de hoje, na era da Atomística e da quantificação da energia, da interação de partículas em campos de forças gerados por essas mesmas partículas -, ele, Kardec, traduzindo o pensamento dos Espíritos, estabeleceu categoricamente, em termos de generalização, as duas grandes verdades que a Ciência vem confirmando dia-a-dia: o da descontinuidade da matéria, em todas as suas modalidade, mais e menos densas, e a da sua unicidade, de origem, isto é, de que a matéria é una; apesar de sua aparente diversidade, todas as modalidades de substâncias, não sendo mais que modificações da matéria cósmica ou substância elementar primitiva, elemento único de que deriva tudo o que é material no Universo. Todo louvor, pois, a Kardec, cuja obra em vez de consignar um erro ou um engano, muito ao contrário, registra, em termos de generalidade, uma admirável antecipação da verdade.
Referências:
01 - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. de Guillon Ribeiro, 57. ed. Rio de Janeiro, FEB, .1983, Questão 17, p. 57.
02 - Op. cit., questão 18. pag. 57.
03 - Op. cit., questão 19, pag. 57.
04 - Op. cit., questão 20, pag. 58
05 - Op. cit., questão 22, pag. 58
06 - Op. cit., questão 27, pag. 59 e 60.
07 - Op. cit., questão 30, pag. 61
08 - Op. cit., questão 31, pag. 61
09 - Op. cit., questão 33, pag. 62 63
10 - Op. cit., questão 34, pag. 63.
11 - O Livro dos Médiuns Trad. de Guillon Ribeiro, 45 ed. Rio de Janeiro, FEB, 1982, item 74, pag. 8586
12. DUARTE, José Coimbra. Ciências Físicas e Biológicas. 26. ed. Rio de Janeiro, Nacional, 1975. pag. 17.
13. Op. cit., pag. 18. 14. Op. cit., pag. 19.