Estudos Espíritas

Monday, May 01, 2006

Os primeiros habitantes da Terra

... uma camada de matéria gelatinosa envolvera o orbe terreno em seus mais íntimos contornos. Essa matéria, amorfa e viscosa, era o celeiro sagrado das sementes da vida. O protoplasma [O conteúdo celular vivo, formado principalmente de citoplasma e núcleo – Dic. Aurélio] foi o embrião de todas as organizações do globo terrestre, e, se essa matéria, sem forma definida, cobria a crosta solidificada do planeta, em breve a condensação da massa dava origem ao surgimento do núcleo, iniciando-se as primeiras manifestações dos seres vivos.

Os primeiros habitantes da Terra, no plano material, são as células albuminóides, as amebas e todas as organizações unicelulares, isoladas e livres, que se multiplicam prodigiosamente na temperatura tépida [pouco calor] dos oceanos.

Com o escoar incessante do tempo, esses seres primordiais se movem ao longo das águas, onde encontram o oxigênio necessário ao entretenimento da vida, elemento que a terra firme não possuía ainda em proporções de manter a existência animal, antes das grandes vegetações; esses seres rudimentares somente revelam um sentido - o do tato, que deu origem a todos os outros, em função de aperfeiçoamento dos organismos superiores.

A elaboração paciente das formas

Decorrido muito tempo, eis que as amebas primitivas se associam para a vida celular em comum, formando-se as colônias de infusórios [seres ciliados], de polipeiros, em obediência aos planos da construção definitiva do porvir, emanados do mundo espiritual onde todo o progresso da Terra tem a sua gênese.

Os reinos vegetal e animal parecem confundidos nas profundidades oceânicas. Não existem formas definidas nem expressão individual nessas sociedades de infusórios; mas, desses conjuntos singulares, formam-se ensaios de vida que já apresentam caracteres e rudimentos dos organismos superiores.
Milhares de anos foram precisos aos operários de Jesus, nos serviços da elaboração paciente das formas.

A princípio, coordenam os elementos da nutrição e da conservação da existência. O coração e os brônquios são conquistados e, após eles, formam-se os pródromos celulares do sistema nervoso e dos órgãos da procriação, que se aperfeiçoam, definindo-se nos seres.

As formas intermediárias da natureza

A atmosfera está ainda saturada de umidade e vapores, e a terra sólida está coberta de lodo e pântanos inimagináveis.

Todavia, as derradeiras convulsões interiores do orbe localizam os calores centrais do planeta, restringindo a zona das influências telúricas necessárias à manutenção da vida animal.
Esses fenômenos geológicos estabelecem os contornos geográficos do globo, delineando os continentes e fixando a posição dos oceanos, surgindo, desse modo, as grandes extensões de terra firme, aptas a receber as sementes prolíficas da vida.

Os primeiros crustáceos terrestres são um prolongamento dos crustáceos marinhos. Seguindo-lhes as pegadas, aparecem os batráquios, que trocam as águas pelas regiões lodosas e firmes.
Nessa fase evolutiva do planeta, todo o globo se veste de vegetação luxuriante, prodigiosa, de cujas florestas opulentas e desmesuradas as minas carboníferas dos tempos modernos são os petrificados vestígios.
Os ensaios assombrosos

Nessa altura, os artistas da criação inauguram novos períodos evolutivos, no plano das formas.
A Natureza torna-se uma grande oficina de ensaios monstruosos. Após os répteis, surgem os animais horrendos das eras primitivas.

Os trabalhadores do Cristo, como os alquimistas que estudam a combinação das substâncias, na retorta de acuradas observações, analisavam, igualmente, a combinação prodigiosa dos complexos celulares, cuja formação eles próprios haviam delineado, executando, com as suas experiências, uma justa aferição de valores, prevendo todas as possibilidades e necessidades do porvir.

Todas as arestas foram eliminadas. Aplainaram-se dificuldades e realizaram-se novas conquistas. A máquina celular foi aperfeiçoada, no limite do possível, em face das leis físicas do globo. Os tipos adequados à Terra foram consumados em todos os reinos da Natureza, eliminando-se os frutos teratológicos e estranhos, do laboratório de suas perseverantes experiências. A prova da intervenção das forças espirituais, nesse vasto campo de operações, é que, enquanto o escorpião, gêmeo dos crustáceos marinhos, conserva até hoje, de modo geral, a forma primitiva, os animais monstruosos das épocas remotas, que lhe foram posteriores, desapareceram para sempre da fauna terrestre, guardando os museus do mundo as interessantes reminiscências de suas formas atormentadas.
[A Caminho da Luz, Emmanuel/FCXavier, Cap. 2, pág. 26-28]

Sunday, April 16, 2006

Estudo sobre os fluidos


1. - A Ciência resolveu a questão dos milagres que mais particularmente derivam do elemento material, quer explicando-os, quer lhes demonstrando a impossibilidade, em face das leis que regem a matéria. Mas, os fenômenos em que prepondera o elemento espiritual, esses, não podendo ser explicados unicamente por meio das leis da Natureza, escapam às investigações da Ciência. Tal a razão por que eles, mais do que os outros, apresentam os caracteres aparentes do maravilhoso. É, pois, nas leis que regem a vida espiritual que se pode encontrar a explicação dos milagres dessa categoria.

2. — O fluido cósmico universal é, como já foi demonstrado, a matéria elementar primitiva, cujas modificações e constituem a inumerável variedade dos corpos da Natureza. (A Gênese, Cap. X.) Como princípio elementar do Universo, ele assume dois estados distintos:
- o de eterização ou imponderabilidade, que se pode considerar o primitivo estado normal; e
- o de materialização ou de ponderabilidade, que é, de certa maneira, consecutivo àquele.
O ponto intermédio é o da transformação do fluido em matéria tangível. Mas, ainda aí, não há transição brusca, porquanto podem considerar-se os nossos fluidos imponderáveis como termo médio entre os dois estados.(A Gênese, Cap. IV, nos 10 e seguintes.)
Cada um desses dois estados dá lugar, naturalmente, a fenômenos especiais: ao segundo pertencem os do mundo visível e ao primeiro os do mundo invisível. Uns, os chamados fenômenos materiais, são da alçada da Ciência propriamente dita, os outros, qualificados de fenômenos espirituais ou psíquicos, porque se ligam de modo especial à existência dos Espíritos, cabem nas atribuições do Espiritismo.
Como, porém, a vida espiritual e a vida corporal se acham incessantemente em contacto, os fenômenos das duas categorias muitas vezes se produzem simultaneamente. No estado de encarnação, o homem somente pode perceber os fenômenos psíquicos que se prendem à vida corpórea; os do domínio espiritual escapam aos sentidos materiais e só podem ser percebidos no estado de Espírito. (1)

3. — No estado de eterização, o fluido cósmico não é uniforme; sem deixar de ser etéreo, sofre modificações tão variadas em gênero e mais numerosas talvez do que no estado de matéria tangível. Essas modificações constituem fluidos distintos que, embora procedentes do mesmo princípio, são dotados de propriedades especiais e dão lugar aos fenômenos peculiares ao mundo invisível.
Dentro da relatividade de tudo, esses fluidos têm para os Espíritos, que também são fluídicos, uma aparência tão material, quanto a dos objetos tangíveis para os encarnados e são, para eles, o que são para nós as substâncias do mundo terrestre. Eles os elaboram e combinam para produzirem determinados efeitos, como fazem os homens com os seus materiais, ainda que por processos diferentes.
Lá, porém, como neste mundo, somente aos Espíritos mais esclarecidos é dado compreender o papel que desempenham os elementos constitutivos do mundo onde eles se acham. Os ignorantes do mundo invisível são tão incapazes de explicar a si mesmos os fenômenos a que assistem e para os quais muitas vezes concorrem maquinalmente, como os ignorantes da Terra o são para explicar os efeitos da luz ou da eletricidade, para dizer de que modo é que vêem e escutam.

4. — Os elementos fluídicos do mundo espiritual escapam aos nossos instrumentos de análise e à percepção dos nossos sentidos, feitos para perceberem a matéria tangível e não a matéria etérea. Alguns há, pertencentes a um meio diverso a tal ponto do nosso, que deles só podemos fazer idéia mediante comparações tão imperfeitas como aquelas mediante as quais um cego de nascença procura fazer idéia da teoria das cores.Mas, entre tais fluidos, há os tão intimamente ligados à vida corporal, que, de certa forma, pertencem ao meio terreno.
Em falta de observação direta, seus efeitos podem observar-se, como se observam os do fluido do imã, fluido que jamais se viu, podendo-se adquirir sobre a natureza deles conhecimentos de alguma precisão. É essencial esse estudo, porque está nele a chave de uma imensidade de fenômenos que não se conseguem explicar unicamente com as leis da matéria.

5. — A pureza absoluta, da qual nada nos pode dar idéia, é o ponto de partida do fluido universal; o ponto oposto é o em que ele se transforma em matéria tangível. Entre esses dois extremos, dão-se inúmeras transformações, mais ou menos aproximadas de um e de outro. Os fluidos mais próximos da materialidade, os menos puros, conseguintemente, compõem o que se pode chamar a atmosfera espiritual da Terra. É desse meio, onde igualmente vários são os graus de pureza, que os Espíritos encarnados e desencarnados, deste planeta, haurem os elementos necessários à economia de suas existências. Por muito sutis e impalpáveis que nos sejam esses fluidos, não deixam por isso de ser de natureza grosseira, em comparação com os fluidos etéreos das regiões superiores.
O mesmo se dá na superfície de todos os mundos, salvo as diferenças de constituição e as condições de vitalidade próprias de cada um. Quanto menos material é a vida neles, tanto menos afinidades têm os fluidos espirituais com a matéria propriamente dita.
Não é rigorosamente exata a qualificação de fluidos espirituais, pois que, em definitiva, eles são sempre matéria mais ou menos quintessenciada. De realmente espiritual, só a alma ou princípio inteligente. Dá-se-lhes essa denominação por comparação apenas e, sobretudo, pela afinidade que eles guardam com os Espíritos. Pode dizer-se que são a matéria do mundo espiritual, razão por que são chamados fluidos espirituais.

6. — Quem conhece, aliás, a constituição íntima da matéria tangível? Ela talvez somente seja compacta em relação aos nossos sentidos; prová-lo-ia a facilidade com que a atravessam os fluidos espirituais e os Espíritos, aos quais não oferece maior obstáculo, do que o que os corpos transparentes oferecem à luz.
Tendo por elemento primitivo o fluido cósmico etéreo, à matéria tangível há de ser possível, desagregando-se, voltar ao estado de eterização, do mesmo modo que o diamante, o mais duro dos corpos, pode volatilizar-se em gás impalpável.
Na realidade, a solidificação da matéria não é mais do que um estado transitório do fluido universal, que pode volver ao seu estado primitivo, quando deixam de existir as condições de coesão.
Quem sabe mesmo se, no estado de tangibilidade, a matéria não é suscetível de adquirir uma espécie de eterização que lhe daria propriedades particulares? Certos fenômenos, que parecem autênticos, tenderiam a fazer supô-lo. Ainda não conhecemos senão as fronteiras do mundo invisível; o porvir, sem dúvida, nos reserva o conhecimento de novas leis, que nos permitirão compreender o que se nos conserva em mistério.

(1) A denominação de fenômeno psíquico exprime com mais exatidão o pensamento, do que a de fenômeno espiritual, dado que esses fenômenos repousam sobre as propriedades e os atributos da alma, ou, melhor, dos fluidos perispiríticos, inseparáveis da alma. Esta qualificação os liga mais intimamente à ordem dos fatos naturais regidos por leis; pode-se, pois, admiti-los como efeitos psíquicos, sem os admitir a título de milagres.

Allan Kardec, A Gênese, Cap. XIV, Os Fluidos

Sunday, April 02, 2006

Espírito e Matéria

Dotado por Deus com o atributo superior da inteligência, tem buscado o homem conhecer o mundo em que vive e o Universo de que é ínfima parte. Limitado, porem, é ainda o alcance de sua inteligência, e o principio das coisas lhe e vedado. Em encarnações sucessivas, entretanto, com a própria aplicação na busca incessante de novos conhecimentos, ele a vai desenvolvendo e adquirindo também dignificantes virtudes morais, que lhe granjeiam merecimento a outorgas divinas cada vez mais altas. Assim progride o Espirito penetrando, pouco a pouco, os segredos do Universo e aproximando-se dos mistérios das origens.
Essa a perspectiva de esperança que nos traz a consoladora Doutrina dos Espíritos: Não é dado ao homem conhecer o princípio das coisas, ainda, porque "(...) Deus não permite que ao homem tudo seja revelado neste mundo," (01) porém, é certo que "o véu se levanta a seus olhos, à medida que ele se depura; mas para compreender certas coisas, são-lhe precisas faculdades que ainda não possui." (02) Mesmo através dos grandes progressos da ciência, o homem ainda estará limitado. "A ciência lhe foi dada para o seu adiantamento em todas as coisas; ele, porém, não pode ultrapassar os limites que Deus estabeleceu. (...)" (03).
Além da Ciência, que é a fonte dos conhecimentos que ele deve adquirir com o próprio esforço de pesquisa, aplicando a inteligência, a lógica dos raciocínios e os métodos experimentais, tem o homem na Revelação outra fonte para acrescer os seus conhecimentos. Deus permite que essa revelação lhe seja feita por intermédio de Espíritos Superiores, no domínio exclusivo da Ciência Pura, isto é, sem quaisquer objetivos utilitaristas, aplicações práticas ou tecnológicas. "Dado é ao homem receber, sem ser por meio das investigações da Ciência, comunicações de ordem mais elevada acerca do que lhe escapa ao testemunho dos sentidos? - Sim, se o julgar conveniente, Deus pode revelar o que à Ciência não é dado apreender." (04)
Que pode, pois, valendo-se dessas duas fontes de informação, já o homem saber sobre a constituição do Universo? A Ciência limitou se a considerar como únicas realidades existentes a matéria e a energia. Aprofundando-se, entretanto, no seu conhecimento chegou à conclusão de que estão de tal modo e tão estreitamente relacionadas que representam, em verdade, duas expressões de uma só e mesma realidade, não sendo a matéria mais do que energia condensada ou concentrada, limitada em sua força e dinamismo próprios, verdadeiramente escravizada, encerrada em âmbitos restritos para formar as massas densas dos corpos materiais. Inversamente, em determinadas condições e a matéria atingida em sua massa, sofre desconcentrarão, descondensa-se, desintegra-se, libertando energia em radiações diversas de natureza corpuscular.
Há sempre lado a lado, no Universo, matéria densa e energia livre em interações recíprocas, que condicionam os dois processos inversos de condensação e de libertação de energia. Enorme já é o acervo de conhecimentos, que, sobre esse aspecto do Universo, a Ciência e a tecnologia permitiram ao homem acumular, mas que escapa, evidentemente, aos objetivos deste Resumo. Entretanto - e é isto o que nos cabe assinalar aqui -, não considerou a Ciência, na constituição do Universo, senão o elemento material, quer em seu estado denso, quer em suas manifestações energéticas. Não procedeu assim a Revelação. Esta ensina que ha fundamentalmente dois elementos gerais no Universo: o elemento material - bruto e o elemento espiritual - inteligente.
Mas com uma particularidade importantíssima, referente ao elemento material: este não abrange somente as formas densas, visíveis e tangíveis, dotadas de massa e ponderabilidade, extensão e impenetrabilidade, mas também estados sutis, não acessíveis aos sentidos, em que desaparecem a massa tangível e a ponderabilidade e surge a característica penetrabilidade, em relação à massa densa. Vejamos o que responderam os Espíritos às indagações de Kardec: "Define-se geralmente a matéria como sendo - o que tem extensão, o que e capaz de nos impressionar os sentidos, o que e impenetrável. São exatas essas definições? Do vosso ponto de vista, elas o são, porque não falais senão do que conheceis. Mas a matéria existe em estados que ignorais. Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma impressão vos cause aos sentidos. Contudo, é sempre matéria. Para vós, porém, ,não o seria. "Que definição podeis dar da matéria? - A matéria é o laço que prende o Espírito; e o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação. (...) (05)
"Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito? - Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo como elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, não haveria razão para que também o Espírito não o fosse. Está colocado entre o Espírito e a matéria; é fluido, como a matéria é matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do Espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas conheceis uma par te mínima. Esse fluido universal ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá. (...)" (06)
Estas passagens de "O livro dos Espíritos", especialmente a ultima, de nº 27, são bastante elucidativas, quando não se tem o espírito escravizado aos preconceitos científicos materialistas. Tudo no Universo procede de Deus - suprema potência criadora. Deus criou o fluido universal ou matéria cósmica, que enche o espaço infinito e é, verdadeiramente, o elemento primitivo, a partir do qual se forma tudo o que no Universo é material: os mundos e todos os seres. Estes são a concretização das idéias divinas, por força da Sua onipotente vontade. Deus criou também o espírito, elemento inteligente, o qual é submetido a longa elaboração através dos diversos reinos da Natureza. No contato com minerais, vegetais e animais, o princípio inteligente recebe impressões que, pela repetição, vão-se fixando, dando origem a automatismos, reflexos, instintos, hábitos, memória, e acabam por integrar-se em individualidades conscientes, dotadas de razão e vontade, livre-arbítrio e responsabilidade, destinadas a progredir até que adquiram pureza e perfeição que as aproximam da Inteligência Suprema.
Então, Espíritos puros e perfeitos, que adquiriram com a perfeição um profundo conhecimento das leis universais, possuindo também os mais elevados sentimentos e excelsas virtudes, detentoras de sentidos e poderes espirituais superiores, as idéias divinas tornam-se-lhes perceptíveis, são-lhes transmitidas e, executores que podem ser da Suprema Vontade, concretizam-nas em formas materiais, elaborando mundos e presidindo neles ao desabrochar da vi da. Tornam-se, assim, colaboradores de Deus na obra da Criação. Portanto, a idéia criadora procede de Deus e pode surgir no Espírito.
Só o Espírito pode conceber idéias. A idéia toma forma pela ação da vontade divina ou do Espírito sobre o fluido universal que, pela sua natureza intermediária entre o Espírito e a matéria, está apto a receber a influência daquele, transmitindo-a a esta. A importância desse fluido universal na constituição do Universo pode-se bem aquilatar nas respostas dadas pelos Espíritos às indagações de Allan Kardec constantes umas em "O Livro dos Médiuns", outras na obra básica ]á citada.
1º) O fluido universal não é uma emanação da divindade.
2º) É uma criação divina, como tudo que há na Natureza.
3º) Fluido universal é também um elemento universal: "(...) é o princípio elementar de todas as coisas". (11) 4º) É o elemento do fluido elétrico.
5º) Para se encontrar o fluido universal na sua simplicidade absoluta, é preciso ascender aos Espíritos puros. No nosso mundo, ele está mais ou menos modificado, para formar a matéria compacta que nos cerca.
6º) O estado de simplicidade absoluta que mais se lhe aproxima é o do fluido a que chamamos fluido magnético animal. (11)
A Ciência considera as seguintes propriedades da matéria:
a) Massa: "(...) quantidade de matéria de um corpo.(...) (13)
b) Extensão é a porção do espaço ocupada pela matéria. Toda matéria ocupa um determinado lugar no espaço.
c) Impenetrabilidade: "Duas porções de matéria não podem, ao mesmo tempo, ocupar o mesmo lugar no espaço. (...)" (14)
d) inércia: "Quando um corpo, formado naturalmente por matéria, está em repouso, é necessário uma força para colocá-lo em movimento. Se o corpo estiver em movimento, é necessário uma força para alterá-lo ou fazer o corpo parar. (...)" (13)
e) divisibilidade: "(...) Podemos dividir um corpo ou pulverizá-lo ate certo limite. (...)" (14)
"As partículas são formadas de partículas menores, chamadas átomos" (14) É interessante definir, também, que "Matéria é tudo o que possui massa e extensão. Corpo é uma porção limitada da matéria e Substâncias são as diferentes espécies de matéria. (...)" (12) A matéria tal como e conceituada pela Ciência é ponderável, isto é, pode ser pesada.
O fluido universal, apesar de desempenhar "(...) o papel intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita (...)" (06) e podendo, "(...) de certo ponto de vista, ser lícito classificá-lo com o elemento material (...)" (06), é imponderável. É uma das propriedades especiais de que nos falam os Espíritos nos ensinos da Codificação. Com relação a outra propriedade da matéria, vejamos o que Kardec nos apresenta em "O Livro dos Espíritos":
"A matéria é formada de um só ou de muitos 'elementos? De um só elemento primitivo. Os corpos que considerais simples não são verdadeiros elementos, são transformações da matéria primitiva." (07) "Donde se originam as diversas propriedades da matéria? - São modificações que as moléculas elementares sofrem, por efeito da sua união, em certas circunstâncias." (08) "A mesma matéria elementar é suscetível de experimentar todas as modificações e de adquirir todas as propriedades? - Sim, e é isso que se deve entender, quando dizemos que tudo esta em tudo! {...) Não parece que esta teoria dá razão aos que não admitem na matéria senão duas propriedades essenciais : a força e o movimento, entendendo que todas as demais propriedades não passam de efeitos secundários, que variam conforme a intensidade da força e a direção do movimento? - É acertada essa opinião. Falta apenas acrescentar: e conforme à disposição das moléculas, como o mostra, por exemplo, um corpo opaco, que pode tornar-se transparente e vice-versa." (09)
Finalmente, completando o assunto sobre as propriedades da matéria, Allan Kardec pergunta aos Espíritos superiores : "As moléculas tem forma determinada? - Certamente, as moléculas têm uma forma, porém, não sois capazes de apreciá-la. Essa forma é constante ou variável? - Constante a das moléculas elementares primitivas; variável a das moléculas secundárias, que mais não são do que aglomerações das primeiras. Porque, o que chamais molécula longe ainda esta da molécula elementar." (10)
Estas últimas afirmações dos Espíritos, que Kardec registrou com absoluta fidelidade, constituem admirável antecipação das verdades sobre a descontinuidade da matéria e a sua unicidade, a primeira já totalmente provada experimentalmente pela Ciência e a segunda admitida por ela como inteiramente provável. De fato, embora se considerem hoje, na base da constituição da matéria - como conseqüência de notáveis investigações experimentais da Ciência - além das moléculas e dos átomos, numerosas outras partículas, de modo que a nomenclatura aplicada a essas partículas ou corpúsculos incluem outras denominações, tais como hádrons e léptens , subdivididos os hádrons em mésons e bárions ( incluindo os bárions os neutrons e prótons dos núcleos atômicos) e os léptons em neutrinos, muons e elétrons.
Ao tempo em que Kardec escreveu, entretanto, as partículas consideradas como às menores porções das substâncias chamavam-se mesmo moléculas, eram as moléculas constituintes das substâncias simples, formadas pela união, dois a dois, dos átomos de um único elemento químico (como o gás oxigênio representado pela fórmula O2, o gás hidrogênio H2, o gás cloro Cl2 etc. ) e as moléculas integrantes das substâncias compostas, por sua vez formadas pela combinação de átomos de dois ou mais elementos, em determinadas proporções (como o gás clorídrico HCl, o vapor de água H2O, o gás carbônico CO2, o ácido sulfúrico H2SO4, etc.).
Allan Kardec não podia, portanto, empregar outro termo senão moléculas para designar as menores partículas das substâncias, tanto as que representam a matéria densa, como aqueles estados sutis da matéria que derivam diretamente do fluido universal, que é o próprio fluido elementar primitivo.
Entretanto - sem a nomenclatura que fornece os termos de hoje, na era da Atomística e da quantificação da energia, da interação de partículas em campos de forças gerados por essas mesmas partículas -, ele, Kardec, traduzindo o pensamento dos Espíritos, estabeleceu categoricamente, em termos de generalização, as duas grandes verdades que a Ciência vem confirmando dia-a-dia: o da descontinuidade da matéria, em todas as suas modalidade, mais e menos densas, e a da sua unicidade, de origem, isto é, de que a matéria é una; apesar de sua aparente diversidade, todas as modalidades de substâncias, não sendo mais que modificações da matéria cósmica ou substância elementar primitiva, elemento único de que deriva tudo o que é material no Universo. Todo louvor, pois, a Kardec, cuja obra em vez de consignar um erro ou um engano, muito ao contrário, registra, em termos de generalidade, uma admirável antecipação da verdade.
Referências:
01 - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. de Guillon Ribeiro, 57. ed. Rio de Janeiro, FEB, .1983, Questão 17, p. 57.
02 - Op. cit., questão 18. pag. 57.
03 - Op. cit., questão 19, pag. 57.
04 - Op. cit., questão 20, pag. 58
05 - Op. cit., questão 22, pag. 58
06 - Op. cit., questão 27, pag. 59 e 60.
07 - Op. cit., questão 30, pag. 61
08 - Op. cit., questão 31, pag. 61
09 - Op. cit., questão 33, pag. 62 63
10 - Op. cit., questão 34, pag. 63.
11 - O Livro dos Médiuns Trad. de Guillon Ribeiro, 45 ed. Rio de Janeiro, FEB, 1982, item 74, pag. 8586
12. DUARTE, José Coimbra. Ciências Físicas e Biológicas. 26. ed. Rio de Janeiro, Nacional, 1975. pag. 17.
13. Op. cit., pag. 18. 14. Op. cit., pag. 19.

Monday, January 23, 2006

Caráter da Revelação Espírita

Revelar, do latim revelare, cuja raiz, velum, véu, significa literalmente sair de sob o véu — e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. Em sua acepção vulgar mais genérica, essa palavra se emprega a respeito de qualquer coisa ignota que é divulgada, de qualquer idéia nova que nos põe ao corrente do que não sabíamos.

Deste ponto de vista, todas as ciências que aos fazem conhecer os mistérios da Natureza são revelações e pode dizer-se que há para a Humanidade uma revelação incessante. A Astronomia revelou o mundo astral, que não conhecíamos; a Geologia revelou a formação da Terra; a Química, a lei das afinidades; a Fisiologia, as funções do organismo, etc.; Copérnico, Galileu, Newton, Laplace, Lavoisier foram reveladores.

A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um fato e, por conseqüência, não existe revelação. Toda revelação desmentida por fatos deixa de o ser, se for atribuída a Deus. Não podendo Deus mentir, nem se enganar, ela não pode emanar dele: deve ser considerada produto de uma concepção humana.

(...)

Desde que se admite a solicitude de Deus para com as suas criaturas, por que não se há de admitir que Espíritos capazes, por sua energia e superioridade de conhecimento, de fazerem que a Humanidade avance, encarnem pela vontade de Deus, com o fim de ativarem o progresso em determinado sentido? Por que não admitir que eles recebam missões, como um embaixador as recebe do seu soberano? Tal o papel dos grandes gênios. Que vêm eles fazer, senão ensinar aos homens verdades que estes ignoram e ainda ignorariam durante largos períodos, a fim de lhes dar um ponto de apoio mediante o qual possam elevar-se mais rapidamente? Esses gênios, que aparecem através dos séculos como estrelas brilhantes, deixando longo traço luminoso sobre a Humanidade, são missionários ou, se o quiserem, messias. O que de novo ensinam aos homens, quer na ordem física, quer na ordem filosófica, são revelações. Se Deus suscita reveladores para as verdades científicas, pode, com mais forte razão, suscitá-los para as verdades morais, que constituem elementos essenciais do progresso. Tais são os filósofos cujas idéias atravessam os séculos.

No sentido especial da fé religiosa, a revelação se diz mais particularmente das coisas espirituais que o homem não pode descobrir por meio da inteligência, nem com o auxílio dos sentidos e cujo conhecimento lhe dão Deus ou seus mensageiros, quer por meio da palavra direta, quer pela inspiração. Neste caso, a revelação é sempre feita a homens predispostos, designados sob o nome de profetas ou messias, isto é, enviados ou missionários, incumbidos de transmiti-la aos homens. Considerada debaixo deste ponto de vista, a revelação implica a passividade absoluta e é aceita sem verificação, sem exame, nem discussão.

Todas as religiões tiveram seus reveladores e estes, embora longe estivessem de conhecer toda a verdade, tinham uma razão de ser providencial, porque eram apropriados ao tempo e ao meio em que viviam, ao caráter particular dos povos a quem falavam e aos quais eram relativamente superiores. Apesar dos erros das suas doutrinas, não deixaram de agitar os espíritos e, por isso mesmo, de semear os germens do progresso, que mais tarde haviam de desenvolver-se, ou se desenvolverão à luz brilhante do Cristianismo. É, pois, injusto se lhes lance anátema em nome da ortodoxia, porque dia virá em que todas essas crenças tão diversas na forma, mas que repousam realmente sobre um mesmo princípio fundamental — Deus e a imortalidade da alma, se fundirão numa grande e vasta unidade, logo que a razão triunfe dos preconceitos. Infelizmente, as religiões hão sido sempre instrumentos de dominação; o papel de profeta há tentado as ambições secundárias e tem-se visto surgir uma multidão de pretensos reveladores ou messias, que, valendo-se do prestigio deste nome, exploram a credulidade em proveito do seu orgulho, da sua ganância, ou da sua indolência, achando mais cômodo viver à custa dos iludidos. A religião cristã não pôde evitar esses parasitas. A tal propósito, chamamos particularmente a atenção para o capítulo XXI de O Evangelho segundo o Espiritismo; “Levantar-se-ão falsos Cristos e falsos profetas”.

Haverá revelações diretas de Deus aos homens? É uma questão que não ousaríamos resolver, nem afirmativamente, nem negativamente, de maneira absoluta. O fato não é radicalmente impossível, porém, nada nos dá dele prova certa. O que não padece dúvida é que os Espíritos mais próximos de Deus pela perfeição se imbuem do seu pensamento e podem transmiti-lo. Quanto aos reveladores encarnados, segundo a ordem hierárquica a que pertencem e o grau a que chegaram de saber, esses podem tirar dos seus próprios conhecimentos as instruções que ministram, ou recebê-las de Espíritos mais elevados, mesmo dos mensageiros diretos de Deus, os quais, falando em nome de Deus, têm sido às vezes tomados pelo próprio Deus.

As comunicações deste gênero nada têm de estranho para quem conhece os fenômenos espíritas e a maneira pela qual se estabelecem as relações entre os encarnados e os desencarnados. As instruções podem ser transmitidas por diversos meios: pela simples inspiração, pela audição da palavra, pela visibilidade dos Espíritos instrutores, nas visões e aparições, quer em sonho, quer em estado de vigília, do que há muitos exemplos na Bíblia, no Evangelho e nos livros sagrados de todos os povos. É, pois, rigorosamente exato dizer-se que quase todos os reveladores são médiuns inspirados, audientes ou videntes. Daí, entretanto, não se deve concluir que todos os médiuns sejam reveladores, nem, ainda menos, intermediários diretos da divindade ou dos seus mensageiros.

Só os Espíritos puros recebem a palavra de Deus com a missão de transmiti-la; mas, sabe-se hoje que nem todos os Espíritos são perfeitos e que existem muitos que se apresentem sob falsas aparências, o que levou S. João a dizer:«Não acrediteis em todos os Espíritos; vede antes se os Espíritos são de Deus.» (Epíst. 1ª, cap. IV, v. 4.)

O Espiritismo, dando-nos a conhecer o mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivíamos sem o suspeitarmos, assim como as leis que o regem, suas relações com o mundo visível, a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem depois da morte, é uma verdadeira revelação, na acepção científica da palavra.

Por sua natureza, a revelação espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica. Participa da primeira, porque foi providencial o seu aparecimento e não o resultado da iniciativa, nem de um desígnio premeditado do homem; porque os pontos fundamentais da doutrina provêm do ensino que deram os Espíritos encarregados por Deus de esclarecer os homens acerca de coisas que eles ignoravam, que não podiam aprender por si mesmos e que lhes importa conhecer, hoje que estão aptos a compreendê-las. Participa da segunda, por não ser esse ensino privilégio de indivíduo algum, mas ministrado a todos do mesmo modo; por não serem os que o transmitem e os que o recebem seres passivos, dispensados do trabalho da observação e da pesquisa, por não renunciarem ao raciocínio e ao livre-arbítrio; porque não lhes é interdito o exame, mas, ao contrário, recomendado; enfim, porque a doutrina não foi ditada completa, nem imposta à crença cega; porque é deduzida, pelo trabalho do homem, da observação dos fatos que os Espíritos lhe põem sob os olhos e das instruções que lhe dão, instruções que ele estuda, comenta, compara, a fim de tirar ele próprio as ilações e aplicações. Numa palavra, o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem.

Allan Kardec, A Gênese, Cap. 1 (Recomenda-se a leitura integral do capítulo)

Wednesday, January 18, 2006

Conhecimento do princípio das coisas


Segundo nos informam os espíritos na Codificação, “Deus não permite que ao homem tudo seja revelado neste mundo.” Assim, não lhe é dado conhecer o princípio das coisas. Somente à medida que ele se depura é que o véu das coisas ocultas “se levanta a seus olhos; mas, para compreender certas coisas, são precisas faculdades que ainda não possui.”

Pela ciência, que lhe foi dada para seu adiantamento em todas as coisas, pode o homem usando a investigação, penetrar alguns segredos da natureza. “Porém, não pode ultrapassar os limites que Deus estabeleceu.”

E Allan Kardec, anota:

“Quanto mais consegue o homem penetrar nesses mistérios, quanto maior admiração lhe devem causar o poder e a sabedoria do criador. No entanto, seja por orgulho ou por fraqueza, a sua própria inteligência fá-lo joguete da ilusão. Ele amontoa sistemas sobre sistemas, e cada dia que passa lhe mostra quantos erros tomou por verdades e quantas verdades rejeitou como erros. São outras tantas decepções para o seu orgulho.”

Outrossim, se julgar conveniente, Deus pode revelar ao homem o que à ciência não é dado apreender. Desse modo, o homem pode receber comunicações de ordem mais elevadas acerca do que lhe escapa ao testemunho dos sentidos. É por essas comunicações “que o homem adquire, dentro de certos limites, o conhecimento do seu passado e do seu futuro.”

Em "Obras Póstumas", de Allan Kardec, 1.ª parte, § 3.º, encontramos: “O princípio das coisas reside nos arcanos de Deus.”

Tudo diz que Deus é o autor de todas as coisas, mas como, e quando, as criou ele? A matéria existe, como ele, de toda a eternidade? Ignoramo-lo. Acerca de tudo, que ele não julgou conveniente revelar-nos, apenas se podem erguer sistemas, mais ou menos prováveis. Dos efeitos que observamos, podemos remontar a algumas causas. Há, porém, um limite, que não nos é possível transpor. Querer ir além é, simultaneamente, perder tempo e cair em erro.”

Retirado do site: http://www.espirito.org.br/portal/cursos/cbe-adep/caderno04-o-principio.html

Tuesday, January 17, 2006

Definição de Deus

Pode-se levar mais longe do que temos feito a defi­nição de Deus? Definir é limitar. Em face deste grande problema, a fraqueza humana aparece. Deus impõe-se ao nosso espírito, porém escapa a toda análise. O Ser que enche o tempo e o espaço não será jamais medido por seres limitados pelo tempo e pelo espaço. Querer definir Deus seria circunscrevê-lo e quase negá-lo.
As causas secundárias da vida se explicam, mas a causa primária permanece inacessível em sua Imensida­de. Só chegaremos a compreendê-la depois de termos atravessado a morte bastantes vezes.

Para resumir, tanto quanto podemos, tudo o que pen­samos referente a Deus, diremos que Ele é a Vida, a Razão, a Consciência em sua plenitude. É a causa eter­namente operante de tudo o que existe. É a comunhão universal onde cada ser vai sorver a existência, a fim de, em seguida, concorrer, na medida de suas faculdades crescentes e de sua elevação, para a harmonia do con­junto.

Eis-nos bem longe do Deus das religiões, do Deus “forte e cioso” que se cerca de coriscos, reclama vítimas sangrentas e pune os réprobos por toda a eternidade. Os deuses antropomórficos passaram. Fala-se ainda muito de um Deus a quem são atribuídas as fraquezas e as pai­xões humanas, porém esse Deus vê todos os dias diminuir o seu império.
Até aqui o homem só viu Deus através de seu próprio ser, e a idéia que dele fez variava segundo o contemplava por uma ou outra de suas faculdades. Considerado pelo prisma dos sentidos, Deus é múltiplo; todas as forças da Natureza são deuses; assim nasceu o Politeismo. Visto pela inteligência, Deus é duplo: espírito e matéria; daí o Dualismo. A razão esclarecida ele aparece triplo: alma, espírito e corpo. Esta concepção deu nascimento às reli­giões trinitárias da Índia e ao Cristianismo. Percebido pela vontade, faculdade soberana que resume todas as outras, compreendido pela intuição íntima, que é uma propriedade adquirida lentamente, assim como todas as faculdades do gênio, Deus é Uno e Absoluto. Nele se ligam os três princípios constitutivos do Universo para formarem uma Unidade viva.

Assim se explica a diversidade das religiões e dos sis­temas, tanto mais elevados quanto têm sido concebidos por espíritos mais puros e mais esclarecidos. Quando se consideram as coisas por cima, as oposições de Idéias, as religiões e os fatos históricos se explicam e se reconci­liam numa síntese superior.

A idéia de Deus, debaixo das formas diversas em que o têm revestido, evolve entre dois escolhos nos quais es­barraram numerosos sistemas. Um é o Panteísmo, que conclui pela absorção final dos seres no grande Todo. Outro é a noção do Infinito, que do homem afasta Deus, e por tal sorte que até parece suprimir toda a relação entre ambos.

A noção do infinito foi combatida por certos filóso­f os. Embora incompreensível, não se poderia abandoná-la, porque reaparece em todas as coisas. Por exemplo: que há de mais sólido do que o edifício das ciências exatas? O número é a sua base. Sem o número não há matemá­ticas. Ora, é impossível, decorressem mesmo séculos, en­contrar o número que exprima a Infinidade dos números cuja existência o pensamento nos demonstra. O número é Infinito; o mesmo sucede com o tempo e com o espa­ço. Além dos limites do mundo Invisível, o pensamento procura outros limites que incessantemente se furtam à sua apreensão.

Depois da Morte, Léon Denis, Cap. IX, pág. 121.

Monday, January 16, 2006

DEUS

Allan Kardec colocou logo no inicio de “O Livro dos Espíritos” um capítulo que trata exclusivamente de Deus. Com isso pretendeu significar que o Espiritismo se baseia em primeiro lugar na idéia de um Ser Supremo.

Os Espíritos definiram Deus como “(...) a Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas.” (01) Ora, nesse conjunto imenso de mundos e coisas que constituem o Universo, tal é a grandeza, a magnitude, e são tais a ordem e a harmonia, que, tudo isso, pairando infinitamente acima da capacidade do homem, só pode atribuir-se a Onipotência criadora de um Ser Supremamente inteligente e sábio, Criador necessário do tudo que existe. Deus, porém, não pode ser percebido pelo homem em sua divina essência. Mesmo depois de desencarnado, dispondo de faculdades perceptivas menos materiais, não pode ainda o Espírito imperfeito perceber totalmente a natureza divina.

Pode, entretanto o homem, ainda no estágio de relativa inferioridade em que se encontra, ter convincentes provas de que Deus existe, mas advindas por dois outros caminhos, que transcendem aos dos sentidos: o da razão e o do sentimento.

Racionalmente, não é possível admitir um efeito sem causa. Olhando o Universo imenso, a extensão infinita do espaço, a ordem e harmonia a que obedece a marcha dos mundos inumeráveis; olhando ainda os seres da Natureza, Os minerais com suas admiráveis formas cristalinas, o reino vegetal em sua exuberância, numa variedade de plantas quase infinita,
Os animais com seus portes altivos ou a fragrância de certas aves e as miríades de insetos; sondando também o mundo microscópico com incontáveis formas unicelulares; toda essa imensidão, profusão e beleza nos obriga a crer em Deus, como causa necessária. Mas se preferirmos contemplar apenas o que é o nosso próprio corpo, quanta harmonia também divisaremos na nossa roupagem física, nas funções que se exercem a revelia de nossa vontade num ritmo perfeito. Nas maravilhas que São os nossos sentidos; os olhos admiravelmente dispostos para receber a luz refletida nos corpos, condicionando no piano físico a percepção dos
objetos e das cores; o ouvido, adredemente estruturado a percepção de sons, melodias e grandiosas sinfonias; o olfato, o gosto, o tato, outros tantos sentidos que nos permitem instruir-
nos sobre a objetividade das coisas. Toda essa perfeição, a harmonia da natureza humana e do mundo exterior ao homem, só pode ser criação de um Ser Supremamente Inteligente e Sábio, o qual chamamos de Deus.

É pelo sentimento, mais do que pelo raciocínio, que o homem pode compreender a existência de Deus. Porém, há no homem, desde o mais primitivo até o mais civilizado, a idéia inata da existência de Deus. Acima, pois, do raciocínio lógico prova-nos a existência de Deus a intuição que dele temos. E, Jesus, ensinado-nos a orar no-lo revelou como o Pai: Pai Nosso, que estás no Céu, Santificado seja o teu nome (...) (02)

ESDE
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita
Programa II
Unidade 1
Sub-unidade 1

O Espiritismo, portanto, tem na existência de Deus o princípio maior, que está na base mesma desta Doutrina. Sem pretender dar ao homem o conhecimento da Natureza Intima de Deus, permite-se argumentar que prova a sua existência a realidade palpitante e viva do Universo.
Se este existe, há de ter um divino Autor.

TEXTO 2

“(...) A história da idéia de Deus mostra-nos que ela sempre foi relativa ao grau de intelectualidade dos povos e de seus legisladores, correspondendo aos movimentos civilizadores, a poesia dos climas, as raças, a florescência de diferentes povos; enfim, aos progressos
espirituais da Humanidade. Descendo pelo curso dos tempos, assistimos sucessivamente aos desfalecimentos e tergiversações dessa idéia imperecível, que, as vezes fulgurante e outras vezes eclipsada, pode, todavia, ser identificada sempre, nos fastos da Humanidade.” (05)

Nos movimentos revolucionários que aos poucos foram transformando a mentalidade da sociedade humana; as custas das idéias, opiniões e conceitos emitidos pelos sábios, filósofos, cientistas ou religiosos, podemos dizer que se de um lado (...) a ignorância havia humanizado Deus (...) a Ciência diviniza-o (...)” (04) por outro.

“(...) Outrora, Deus foi homem; hoje Deus é Deus. (...) O Ser Supremo, criado a imagem do homem, hoje vê apagar-se pouco a pouco essa imagem, substituída por uma realidade sem forma. (...) Outrora, Júpiter empunhava o raio, Apolo conduzia o Sol, Netuno senhoreava os mares... Na idolatria dos budistas, Deus ressuscitava um morto sobre o Tumulo de um santo, fazia falar um mudo, ouvir um surdo, crescer um carvalho numa noite, emergir d’água um afogado... Desvendava a um estático as zonas do terceiro céu, imunizava do fogo, são e salvo, um santo mártir, transportava um pregador, num abrir e fechar de olhos, a cem léguas de distância, e derrogava, a cada momento, as suas próprias, eternas leis... (...) A maioria dos crentes em Deus o conceituam como um super-homem, alhures assentado acima das nossas cabeças, presidindo os nossos atos. (...)” (04)

Na realidade, pouco sabemos sobre a natureza divina. “(...) Ele não é o Varouna dos árias, o Elim dos egípcios, o Tien dos chineses, o Ahoura-Mazda dos persas, o Brama ou Buda dos indianos, o Jeová dos hebreus, o Zeus dos gregos, o Júpiter dos latinos, nem o que os pintores da Idade Media entronizaram na cúspide dos céus.

Nosso Deus é um Deus ainda desconhecido, qual o era para os Vedas e para os sábios do Areópago de Atenas. (...)” (04) No entanto, no estado evolutivo em que nos encontramos podemos sentir “(...) que Deus não é abstração metafísica (...) ideal que não existe (...). Não,
Deus é um ser vivo, sensível, consciente. Deus é uma realidade ativa. Deus e nosso pai, nosso guia, nosso condutor, nosso melhor amigo; por pouco que lhe dirijamos nossos apelos e que lhe abramos nosso coração, Ele nos esclarecerá, com sua luz, nos aquecerá no seu amor, expandirá sobre nós sua Alma imensa, sua Alma rica de todas as perfeições; por Ele e nEle somente nos sentiremos felizes e verdadeiramente irmãos; fora dEle só encontraremos obscuridade, incerteza, decepção, dor e miséria moral. (...)”. (03)

Tal é o conceito que a nossa inteligência, na fase evolutiva em que se encontra, pode fazer de Deus.

Texto Extraído do Programa II do ESDE Editado Pela FEB

FONTES DE CONSULTA
01 - KARDEC, Allan, In: O Livro dos Espíritos. Trad. de Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro,
FEB, 76. ed., 1995. Perg. 1. pág 51.
02 - Perg. 09 e comentário, pág. 53.
03 - DENIS, Léon. Ação de Deus no Mundo e na História. In: . O Grande Enigma. 7. ed. Rio
de Janeiro, FEB, 1983. Pág. 106.
04 - FLAMMARION, Camille. Deus. In: Deus na Natureza. Trad. De M. Quintão. 5. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 1987. págs. 383-384.
05 - Pág. 385.