Allan Kardec colocou logo no inicio de “O Livro dos Espíritos” um capítulo que trata exclusivamente de Deus. Com isso pretendeu significar que o Espiritismo se baseia em primeiro lugar na idéia de um Ser Supremo.
Os Espíritos definiram Deus como “(...) a Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas.” (01) Ora, nesse conjunto imenso de mundos e coisas que constituem o Universo, tal é a grandeza, a magnitude, e são tais a ordem e a harmonia, que, tudo isso, pairando infinitamente acima da capacidade do homem, só pode atribuir-se a Onipotência criadora de um Ser Supremamente inteligente e sábio, Criador necessário do tudo que existe. Deus, porém, não pode ser percebido pelo homem em sua divina essência. Mesmo depois de desencarnado, dispondo de faculdades perceptivas menos materiais, não pode ainda o Espírito imperfeito perceber totalmente a natureza divina.
Pode, entretanto o homem, ainda no estágio de relativa inferioridade em que se encontra, ter convincentes provas de que Deus existe, mas advindas por dois outros caminhos, que transcendem aos dos sentidos: o da razão e o do sentimento.
Racionalmente, não é possível admitir um efeito sem causa. Olhando o Universo imenso, a extensão infinita do espaço, a ordem e harmonia a que obedece a marcha dos mundos inumeráveis; olhando ainda os seres da Natureza, Os minerais com suas admiráveis formas cristalinas, o reino vegetal em sua exuberância, numa variedade de plantas quase infinita,
Os animais com seus portes altivos ou a fragrância de certas aves e as miríades de insetos; sondando também o mundo microscópico com incontáveis formas unicelulares; toda essa imensidão, profusão e beleza nos obriga a crer em Deus, como causa necessária. Mas se preferirmos contemplar apenas o que é o nosso próprio corpo, quanta harmonia também divisaremos na nossa roupagem física, nas funções que se exercem a revelia de nossa vontade num ritmo perfeito. Nas maravilhas que São os nossos sentidos; os olhos admiravelmente dispostos para receber a luz refletida nos corpos, condicionando no piano físico a percepção dos
objetos e das cores; o ouvido, adredemente estruturado a percepção de sons, melodias e grandiosas sinfonias; o olfato, o gosto, o tato, outros tantos sentidos que nos permitem instruir-
nos sobre a objetividade das coisas. Toda essa perfeição, a harmonia da natureza humana e do mundo exterior ao homem, só pode ser criação de um Ser Supremamente Inteligente e Sábio, o qual chamamos de Deus.
É pelo sentimento, mais do que pelo raciocínio, que o homem pode compreender a existência de Deus. Porém, há no homem, desde o mais primitivo até o mais civilizado, a idéia inata da existência de Deus. Acima, pois, do raciocínio lógico prova-nos a existência de Deus a intuição que dele temos. E, Jesus, ensinado-nos a orar no-lo revelou como o Pai: Pai Nosso, que estás no Céu, Santificado seja o teu nome (...) (02)
ESDE
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita
Programa II
Unidade 1
Sub-unidade 1
O Espiritismo, portanto, tem na existência de Deus o princípio maior, que está na base mesma desta Doutrina. Sem pretender dar ao homem o conhecimento da Natureza Intima de Deus, permite-se argumentar que prova a sua existência a realidade palpitante e viva do Universo.
Se este existe, há de ter um divino Autor.
TEXTO 2
“(...) A história da idéia de Deus mostra-nos que ela sempre foi relativa ao grau de intelectualidade dos povos e de seus legisladores, correspondendo aos movimentos civilizadores, a poesia dos climas, as raças, a florescência de diferentes povos; enfim, aos progressos
espirituais da Humanidade. Descendo pelo curso dos tempos, assistimos sucessivamente aos desfalecimentos e tergiversações dessa idéia imperecível, que, as vezes fulgurante e outras vezes eclipsada, pode, todavia, ser identificada sempre, nos fastos da Humanidade.” (05)
Nos movimentos revolucionários que aos poucos foram transformando a mentalidade da sociedade humana; as custas das idéias, opiniões e conceitos emitidos pelos sábios, filósofos, cientistas ou religiosos, podemos dizer que se de um lado (...) a ignorância havia humanizado Deus (...) a Ciência diviniza-o (...)” (04) por outro.
“(...) Outrora, Deus foi homem; hoje Deus é Deus. (...) O Ser Supremo, criado a imagem do homem, hoje vê apagar-se pouco a pouco essa imagem, substituída por uma realidade sem forma. (...) Outrora, Júpiter empunhava o raio, Apolo conduzia o Sol, Netuno senhoreava os mares... Na idolatria dos budistas, Deus ressuscitava um morto sobre o Tumulo de um santo, fazia falar um mudo, ouvir um surdo, crescer um carvalho numa noite, emergir d’água um afogado... Desvendava a um estático as zonas do terceiro céu, imunizava do fogo, são e salvo, um santo mártir, transportava um pregador, num abrir e fechar de olhos, a cem léguas de distância, e derrogava, a cada momento, as suas próprias, eternas leis... (...) A maioria dos crentes em Deus o conceituam como um super-homem, alhures assentado acima das nossas cabeças, presidindo os nossos atos. (...)” (04)
Na realidade, pouco sabemos sobre a natureza divina. “(...) Ele não é o Varouna dos árias, o Elim dos egípcios, o Tien dos chineses, o Ahoura-Mazda dos persas, o Brama ou Buda dos indianos, o Jeová dos hebreus, o Zeus dos gregos, o Júpiter dos latinos, nem o que os pintores da Idade Media entronizaram na cúspide dos céus.
Nosso Deus é um Deus ainda desconhecido, qual o era para os Vedas e para os sábios do Areópago de Atenas. (...)” (04) No entanto, no estado evolutivo em que nos encontramos podemos sentir “(...) que Deus não é abstração metafísica (...) ideal que não existe (...). Não,
Deus é um ser vivo, sensível, consciente. Deus é uma realidade ativa. Deus e nosso pai, nosso guia, nosso condutor, nosso melhor amigo; por pouco que lhe dirijamos nossos apelos e que lhe abramos nosso coração, Ele nos esclarecerá, com sua luz, nos aquecerá no seu amor, expandirá sobre nós sua Alma imensa, sua Alma rica de todas as perfeições; por Ele e nEle somente nos sentiremos felizes e verdadeiramente irmãos; fora dEle só encontraremos obscuridade, incerteza, decepção, dor e miséria moral. (...)”. (03)
Tal é o conceito que a nossa inteligência, na fase evolutiva em que se encontra, pode fazer de Deus.
Texto Extraído do Programa II do ESDE Editado Pela FEB
FONTES DE CONSULTA
01 - KARDEC, Allan, In: O Livro dos Espíritos. Trad. de Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro,
FEB, 76. ed., 1995. Perg. 1. pág 51.
02 - Perg. 09 e comentário, pág. 53.
03 - DENIS, Léon. Ação de Deus no Mundo e na História. In: . O Grande Enigma. 7. ed. Rio
de Janeiro, FEB, 1983. Pág. 106.
04 - FLAMMARION, Camille. Deus. In: Deus na Natureza. Trad. De M. Quintão. 5. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 1987. págs. 383-384.
05 - Pág. 385.
Monday, January 16, 2006
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