Pode-se levar mais longe do que temos feito a definição de Deus? Definir é limitar. Em face deste grande problema, a fraqueza humana aparece. Deus impõe-se ao nosso espírito, porém escapa a toda análise. O Ser que enche o tempo e o espaço não será jamais medido por seres limitados pelo tempo e pelo espaço. Querer definir Deus seria circunscrevê-lo e quase negá-lo.
As causas secundárias da vida se explicam, mas a causa primária permanece inacessível em sua Imensidade. Só chegaremos a compreendê-la depois de termos atravessado a morte bastantes vezes.
Para resumir, tanto quanto podemos, tudo o que pensamos referente a Deus, diremos que Ele é a Vida, a Razão, a Consciência em sua plenitude. É a causa eternamente operante de tudo o que existe. É a comunhão universal onde cada ser vai sorver a existência, a fim de, em seguida, concorrer, na medida de suas faculdades crescentes e de sua elevação, para a harmonia do conjunto.
Eis-nos bem longe do Deus das religiões, do Deus “forte e cioso” que se cerca de coriscos, reclama vítimas sangrentas e pune os réprobos por toda a eternidade. Os deuses antropomórficos passaram. Fala-se ainda muito de um Deus a quem são atribuídas as fraquezas e as paixões humanas, porém esse Deus vê todos os dias diminuir o seu império.
Até aqui o homem só viu Deus através de seu próprio ser, e a idéia que dele fez variava segundo o contemplava por uma ou outra de suas faculdades. Considerado pelo prisma dos sentidos, Deus é múltiplo; todas as forças da Natureza são deuses; assim nasceu o Politeismo. Visto pela inteligência, Deus é duplo: espírito e matéria; daí o Dualismo. A razão esclarecida ele aparece triplo: alma, espírito e corpo. Esta concepção deu nascimento às religiões trinitárias da Índia e ao Cristianismo. Percebido pela vontade, faculdade soberana que resume todas as outras, compreendido pela intuição íntima, que é uma propriedade adquirida lentamente, assim como todas as faculdades do gênio, Deus é Uno e Absoluto. Nele se ligam os três princípios constitutivos do Universo para formarem uma Unidade viva.
Assim se explica a diversidade das religiões e dos sistemas, tanto mais elevados quanto têm sido concebidos por espíritos mais puros e mais esclarecidos. Quando se consideram as coisas por cima, as oposições de Idéias, as religiões e os fatos históricos se explicam e se reconciliam numa síntese superior.
A idéia de Deus, debaixo das formas diversas em que o têm revestido, evolve entre dois escolhos nos quais esbarraram numerosos sistemas. Um é o Panteísmo, que conclui pela absorção final dos seres no grande Todo. Outro é a noção do Infinito, que do homem afasta Deus, e por tal sorte que até parece suprimir toda a relação entre ambos.
A noção do infinito foi combatida por certos filósof os. Embora incompreensível, não se poderia abandoná-la, porque reaparece em todas as coisas. Por exemplo: que há de mais sólido do que o edifício das ciências exatas? O número é a sua base. Sem o número não há matemáticas. Ora, é impossível, decorressem mesmo séculos, encontrar o número que exprima a Infinidade dos números cuja existência o pensamento nos demonstra. O número é Infinito; o mesmo sucede com o tempo e com o espaço. Além dos limites do mundo Invisível, o pensamento procura outros limites que incessantemente se furtam à sua apreensão.
Depois da Morte, Léon Denis, Cap. IX, pág. 121.
Tuesday, January 17, 2006
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