Monday, May 01, 2006

Os primeiros habitantes da Terra

... uma camada de matéria gelatinosa envolvera o orbe terreno em seus mais íntimos contornos. Essa matéria, amorfa e viscosa, era o celeiro sagrado das sementes da vida. O protoplasma [O conteúdo celular vivo, formado principalmente de citoplasma e núcleo – Dic. Aurélio] foi o embrião de todas as organizações do globo terrestre, e, se essa matéria, sem forma definida, cobria a crosta solidificada do planeta, em breve a condensação da massa dava origem ao surgimento do núcleo, iniciando-se as primeiras manifestações dos seres vivos.

Os primeiros habitantes da Terra, no plano material, são as células albuminóides, as amebas e todas as organizações unicelulares, isoladas e livres, que se multiplicam prodigiosamente na temperatura tépida [pouco calor] dos oceanos.

Com o escoar incessante do tempo, esses seres primordiais se movem ao longo das águas, onde encontram o oxigênio necessário ao entretenimento da vida, elemento que a terra firme não possuía ainda em proporções de manter a existência animal, antes das grandes vegetações; esses seres rudimentares somente revelam um sentido - o do tato, que deu origem a todos os outros, em função de aperfeiçoamento dos organismos superiores.

A elaboração paciente das formas

Decorrido muito tempo, eis que as amebas primitivas se associam para a vida celular em comum, formando-se as colônias de infusórios [seres ciliados], de polipeiros, em obediência aos planos da construção definitiva do porvir, emanados do mundo espiritual onde todo o progresso da Terra tem a sua gênese.

Os reinos vegetal e animal parecem confundidos nas profundidades oceânicas. Não existem formas definidas nem expressão individual nessas sociedades de infusórios; mas, desses conjuntos singulares, formam-se ensaios de vida que já apresentam caracteres e rudimentos dos organismos superiores.
Milhares de anos foram precisos aos operários de Jesus, nos serviços da elaboração paciente das formas.

A princípio, coordenam os elementos da nutrição e da conservação da existência. O coração e os brônquios são conquistados e, após eles, formam-se os pródromos celulares do sistema nervoso e dos órgãos da procriação, que se aperfeiçoam, definindo-se nos seres.

As formas intermediárias da natureza

A atmosfera está ainda saturada de umidade e vapores, e a terra sólida está coberta de lodo e pântanos inimagináveis.

Todavia, as derradeiras convulsões interiores do orbe localizam os calores centrais do planeta, restringindo a zona das influências telúricas necessárias à manutenção da vida animal.
Esses fenômenos geológicos estabelecem os contornos geográficos do globo, delineando os continentes e fixando a posição dos oceanos, surgindo, desse modo, as grandes extensões de terra firme, aptas a receber as sementes prolíficas da vida.

Os primeiros crustáceos terrestres são um prolongamento dos crustáceos marinhos. Seguindo-lhes as pegadas, aparecem os batráquios, que trocam as águas pelas regiões lodosas e firmes.
Nessa fase evolutiva do planeta, todo o globo se veste de vegetação luxuriante, prodigiosa, de cujas florestas opulentas e desmesuradas as minas carboníferas dos tempos modernos são os petrificados vestígios.
Os ensaios assombrosos

Nessa altura, os artistas da criação inauguram novos períodos evolutivos, no plano das formas.
A Natureza torna-se uma grande oficina de ensaios monstruosos. Após os répteis, surgem os animais horrendos das eras primitivas.

Os trabalhadores do Cristo, como os alquimistas que estudam a combinação das substâncias, na retorta de acuradas observações, analisavam, igualmente, a combinação prodigiosa dos complexos celulares, cuja formação eles próprios haviam delineado, executando, com as suas experiências, uma justa aferição de valores, prevendo todas as possibilidades e necessidades do porvir.

Todas as arestas foram eliminadas. Aplainaram-se dificuldades e realizaram-se novas conquistas. A máquina celular foi aperfeiçoada, no limite do possível, em face das leis físicas do globo. Os tipos adequados à Terra foram consumados em todos os reinos da Natureza, eliminando-se os frutos teratológicos e estranhos, do laboratório de suas perseverantes experiências. A prova da intervenção das forças espirituais, nesse vasto campo de operações, é que, enquanto o escorpião, gêmeo dos crustáceos marinhos, conserva até hoje, de modo geral, a forma primitiva, os animais monstruosos das épocas remotas, que lhe foram posteriores, desapareceram para sempre da fauna terrestre, guardando os museus do mundo as interessantes reminiscências de suas formas atormentadas.
[A Caminho da Luz, Emmanuel/FCXavier, Cap. 2, pág. 26-28]

Sunday, April 16, 2006

Estudo sobre os fluidos


1. - A Ciência resolveu a questão dos milagres que mais particularmente derivam do elemento material, quer explicando-os, quer lhes demonstrando a impossibilidade, em face das leis que regem a matéria. Mas, os fenômenos em que prepondera o elemento espiritual, esses, não podendo ser explicados unicamente por meio das leis da Natureza, escapam às investigações da Ciência. Tal a razão por que eles, mais do que os outros, apresentam os caracteres aparentes do maravilhoso. É, pois, nas leis que regem a vida espiritual que se pode encontrar a explicação dos milagres dessa categoria.

2. — O fluido cósmico universal é, como já foi demonstrado, a matéria elementar primitiva, cujas modificações e constituem a inumerável variedade dos corpos da Natureza. (A Gênese, Cap. X.) Como princípio elementar do Universo, ele assume dois estados distintos:
- o de eterização ou imponderabilidade, que se pode considerar o primitivo estado normal; e
- o de materialização ou de ponderabilidade, que é, de certa maneira, consecutivo àquele.
O ponto intermédio é o da transformação do fluido em matéria tangível. Mas, ainda aí, não há transição brusca, porquanto podem considerar-se os nossos fluidos imponderáveis como termo médio entre os dois estados.(A Gênese, Cap. IV, nos 10 e seguintes.)
Cada um desses dois estados dá lugar, naturalmente, a fenômenos especiais: ao segundo pertencem os do mundo visível e ao primeiro os do mundo invisível. Uns, os chamados fenômenos materiais, são da alçada da Ciência propriamente dita, os outros, qualificados de fenômenos espirituais ou psíquicos, porque se ligam de modo especial à existência dos Espíritos, cabem nas atribuições do Espiritismo.
Como, porém, a vida espiritual e a vida corporal se acham incessantemente em contacto, os fenômenos das duas categorias muitas vezes se produzem simultaneamente. No estado de encarnação, o homem somente pode perceber os fenômenos psíquicos que se prendem à vida corpórea; os do domínio espiritual escapam aos sentidos materiais e só podem ser percebidos no estado de Espírito. (1)

3. — No estado de eterização, o fluido cósmico não é uniforme; sem deixar de ser etéreo, sofre modificações tão variadas em gênero e mais numerosas talvez do que no estado de matéria tangível. Essas modificações constituem fluidos distintos que, embora procedentes do mesmo princípio, são dotados de propriedades especiais e dão lugar aos fenômenos peculiares ao mundo invisível.
Dentro da relatividade de tudo, esses fluidos têm para os Espíritos, que também são fluídicos, uma aparência tão material, quanto a dos objetos tangíveis para os encarnados e são, para eles, o que são para nós as substâncias do mundo terrestre. Eles os elaboram e combinam para produzirem determinados efeitos, como fazem os homens com os seus materiais, ainda que por processos diferentes.
Lá, porém, como neste mundo, somente aos Espíritos mais esclarecidos é dado compreender o papel que desempenham os elementos constitutivos do mundo onde eles se acham. Os ignorantes do mundo invisível são tão incapazes de explicar a si mesmos os fenômenos a que assistem e para os quais muitas vezes concorrem maquinalmente, como os ignorantes da Terra o são para explicar os efeitos da luz ou da eletricidade, para dizer de que modo é que vêem e escutam.

4. — Os elementos fluídicos do mundo espiritual escapam aos nossos instrumentos de análise e à percepção dos nossos sentidos, feitos para perceberem a matéria tangível e não a matéria etérea. Alguns há, pertencentes a um meio diverso a tal ponto do nosso, que deles só podemos fazer idéia mediante comparações tão imperfeitas como aquelas mediante as quais um cego de nascença procura fazer idéia da teoria das cores.Mas, entre tais fluidos, há os tão intimamente ligados à vida corporal, que, de certa forma, pertencem ao meio terreno.
Em falta de observação direta, seus efeitos podem observar-se, como se observam os do fluido do imã, fluido que jamais se viu, podendo-se adquirir sobre a natureza deles conhecimentos de alguma precisão. É essencial esse estudo, porque está nele a chave de uma imensidade de fenômenos que não se conseguem explicar unicamente com as leis da matéria.

5. — A pureza absoluta, da qual nada nos pode dar idéia, é o ponto de partida do fluido universal; o ponto oposto é o em que ele se transforma em matéria tangível. Entre esses dois extremos, dão-se inúmeras transformações, mais ou menos aproximadas de um e de outro. Os fluidos mais próximos da materialidade, os menos puros, conseguintemente, compõem o que se pode chamar a atmosfera espiritual da Terra. É desse meio, onde igualmente vários são os graus de pureza, que os Espíritos encarnados e desencarnados, deste planeta, haurem os elementos necessários à economia de suas existências. Por muito sutis e impalpáveis que nos sejam esses fluidos, não deixam por isso de ser de natureza grosseira, em comparação com os fluidos etéreos das regiões superiores.
O mesmo se dá na superfície de todos os mundos, salvo as diferenças de constituição e as condições de vitalidade próprias de cada um. Quanto menos material é a vida neles, tanto menos afinidades têm os fluidos espirituais com a matéria propriamente dita.
Não é rigorosamente exata a qualificação de fluidos espirituais, pois que, em definitiva, eles são sempre matéria mais ou menos quintessenciada. De realmente espiritual, só a alma ou princípio inteligente. Dá-se-lhes essa denominação por comparação apenas e, sobretudo, pela afinidade que eles guardam com os Espíritos. Pode dizer-se que são a matéria do mundo espiritual, razão por que são chamados fluidos espirituais.

6. — Quem conhece, aliás, a constituição íntima da matéria tangível? Ela talvez somente seja compacta em relação aos nossos sentidos; prová-lo-ia a facilidade com que a atravessam os fluidos espirituais e os Espíritos, aos quais não oferece maior obstáculo, do que o que os corpos transparentes oferecem à luz.
Tendo por elemento primitivo o fluido cósmico etéreo, à matéria tangível há de ser possível, desagregando-se, voltar ao estado de eterização, do mesmo modo que o diamante, o mais duro dos corpos, pode volatilizar-se em gás impalpável.
Na realidade, a solidificação da matéria não é mais do que um estado transitório do fluido universal, que pode volver ao seu estado primitivo, quando deixam de existir as condições de coesão.
Quem sabe mesmo se, no estado de tangibilidade, a matéria não é suscetível de adquirir uma espécie de eterização que lhe daria propriedades particulares? Certos fenômenos, que parecem autênticos, tenderiam a fazer supô-lo. Ainda não conhecemos senão as fronteiras do mundo invisível; o porvir, sem dúvida, nos reserva o conhecimento de novas leis, que nos permitirão compreender o que se nos conserva em mistério.

(1) A denominação de fenômeno psíquico exprime com mais exatidão o pensamento, do que a de fenômeno espiritual, dado que esses fenômenos repousam sobre as propriedades e os atributos da alma, ou, melhor, dos fluidos perispiríticos, inseparáveis da alma. Esta qualificação os liga mais intimamente à ordem dos fatos naturais regidos por leis; pode-se, pois, admiti-los como efeitos psíquicos, sem os admitir a título de milagres.

Allan Kardec, A Gênese, Cap. XIV, Os Fluidos

Sunday, April 02, 2006

Espírito e Matéria

Dotado por Deus com o atributo superior da inteligência, tem buscado o homem conhecer o mundo em que vive e o Universo de que é ínfima parte. Limitado, porem, é ainda o alcance de sua inteligência, e o principio das coisas lhe e vedado. Em encarnações sucessivas, entretanto, com a própria aplicação na busca incessante de novos conhecimentos, ele a vai desenvolvendo e adquirindo também dignificantes virtudes morais, que lhe granjeiam merecimento a outorgas divinas cada vez mais altas. Assim progride o Espirito penetrando, pouco a pouco, os segredos do Universo e aproximando-se dos mistérios das origens.
Essa a perspectiva de esperança que nos traz a consoladora Doutrina dos Espíritos: Não é dado ao homem conhecer o princípio das coisas, ainda, porque "(...) Deus não permite que ao homem tudo seja revelado neste mundo," (01) porém, é certo que "o véu se levanta a seus olhos, à medida que ele se depura; mas para compreender certas coisas, são-lhe precisas faculdades que ainda não possui." (02) Mesmo através dos grandes progressos da ciência, o homem ainda estará limitado. "A ciência lhe foi dada para o seu adiantamento em todas as coisas; ele, porém, não pode ultrapassar os limites que Deus estabeleceu. (...)" (03).
Além da Ciência, que é a fonte dos conhecimentos que ele deve adquirir com o próprio esforço de pesquisa, aplicando a inteligência, a lógica dos raciocínios e os métodos experimentais, tem o homem na Revelação outra fonte para acrescer os seus conhecimentos. Deus permite que essa revelação lhe seja feita por intermédio de Espíritos Superiores, no domínio exclusivo da Ciência Pura, isto é, sem quaisquer objetivos utilitaristas, aplicações práticas ou tecnológicas. "Dado é ao homem receber, sem ser por meio das investigações da Ciência, comunicações de ordem mais elevada acerca do que lhe escapa ao testemunho dos sentidos? - Sim, se o julgar conveniente, Deus pode revelar o que à Ciência não é dado apreender." (04)
Que pode, pois, valendo-se dessas duas fontes de informação, já o homem saber sobre a constituição do Universo? A Ciência limitou se a considerar como únicas realidades existentes a matéria e a energia. Aprofundando-se, entretanto, no seu conhecimento chegou à conclusão de que estão de tal modo e tão estreitamente relacionadas que representam, em verdade, duas expressões de uma só e mesma realidade, não sendo a matéria mais do que energia condensada ou concentrada, limitada em sua força e dinamismo próprios, verdadeiramente escravizada, encerrada em âmbitos restritos para formar as massas densas dos corpos materiais. Inversamente, em determinadas condições e a matéria atingida em sua massa, sofre desconcentrarão, descondensa-se, desintegra-se, libertando energia em radiações diversas de natureza corpuscular.
Há sempre lado a lado, no Universo, matéria densa e energia livre em interações recíprocas, que condicionam os dois processos inversos de condensação e de libertação de energia. Enorme já é o acervo de conhecimentos, que, sobre esse aspecto do Universo, a Ciência e a tecnologia permitiram ao homem acumular, mas que escapa, evidentemente, aos objetivos deste Resumo. Entretanto - e é isto o que nos cabe assinalar aqui -, não considerou a Ciência, na constituição do Universo, senão o elemento material, quer em seu estado denso, quer em suas manifestações energéticas. Não procedeu assim a Revelação. Esta ensina que ha fundamentalmente dois elementos gerais no Universo: o elemento material - bruto e o elemento espiritual - inteligente.
Mas com uma particularidade importantíssima, referente ao elemento material: este não abrange somente as formas densas, visíveis e tangíveis, dotadas de massa e ponderabilidade, extensão e impenetrabilidade, mas também estados sutis, não acessíveis aos sentidos, em que desaparecem a massa tangível e a ponderabilidade e surge a característica penetrabilidade, em relação à massa densa. Vejamos o que responderam os Espíritos às indagações de Kardec: "Define-se geralmente a matéria como sendo - o que tem extensão, o que e capaz de nos impressionar os sentidos, o que e impenetrável. São exatas essas definições? Do vosso ponto de vista, elas o são, porque não falais senão do que conheceis. Mas a matéria existe em estados que ignorais. Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma impressão vos cause aos sentidos. Contudo, é sempre matéria. Para vós, porém, ,não o seria. "Que definição podeis dar da matéria? - A matéria é o laço que prende o Espírito; e o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação. (...) (05)
"Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito? - Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo como elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, não haveria razão para que também o Espírito não o fosse. Está colocado entre o Espírito e a matéria; é fluido, como a matéria é matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do Espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas conheceis uma par te mínima. Esse fluido universal ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá. (...)" (06)
Estas passagens de "O livro dos Espíritos", especialmente a ultima, de nº 27, são bastante elucidativas, quando não se tem o espírito escravizado aos preconceitos científicos materialistas. Tudo no Universo procede de Deus - suprema potência criadora. Deus criou o fluido universal ou matéria cósmica, que enche o espaço infinito e é, verdadeiramente, o elemento primitivo, a partir do qual se forma tudo o que no Universo é material: os mundos e todos os seres. Estes são a concretização das idéias divinas, por força da Sua onipotente vontade. Deus criou também o espírito, elemento inteligente, o qual é submetido a longa elaboração através dos diversos reinos da Natureza. No contato com minerais, vegetais e animais, o princípio inteligente recebe impressões que, pela repetição, vão-se fixando, dando origem a automatismos, reflexos, instintos, hábitos, memória, e acabam por integrar-se em individualidades conscientes, dotadas de razão e vontade, livre-arbítrio e responsabilidade, destinadas a progredir até que adquiram pureza e perfeição que as aproximam da Inteligência Suprema.
Então, Espíritos puros e perfeitos, que adquiriram com a perfeição um profundo conhecimento das leis universais, possuindo também os mais elevados sentimentos e excelsas virtudes, detentoras de sentidos e poderes espirituais superiores, as idéias divinas tornam-se-lhes perceptíveis, são-lhes transmitidas e, executores que podem ser da Suprema Vontade, concretizam-nas em formas materiais, elaborando mundos e presidindo neles ao desabrochar da vi da. Tornam-se, assim, colaboradores de Deus na obra da Criação. Portanto, a idéia criadora procede de Deus e pode surgir no Espírito.
Só o Espírito pode conceber idéias. A idéia toma forma pela ação da vontade divina ou do Espírito sobre o fluido universal que, pela sua natureza intermediária entre o Espírito e a matéria, está apto a receber a influência daquele, transmitindo-a a esta. A importância desse fluido universal na constituição do Universo pode-se bem aquilatar nas respostas dadas pelos Espíritos às indagações de Allan Kardec constantes umas em "O Livro dos Médiuns", outras na obra básica ]á citada.
1º) O fluido universal não é uma emanação da divindade.
2º) É uma criação divina, como tudo que há na Natureza.
3º) Fluido universal é também um elemento universal: "(...) é o princípio elementar de todas as coisas". (11) 4º) É o elemento do fluido elétrico.
5º) Para se encontrar o fluido universal na sua simplicidade absoluta, é preciso ascender aos Espíritos puros. No nosso mundo, ele está mais ou menos modificado, para formar a matéria compacta que nos cerca.
6º) O estado de simplicidade absoluta que mais se lhe aproxima é o do fluido a que chamamos fluido magnético animal. (11)
A Ciência considera as seguintes propriedades da matéria:
a) Massa: "(...) quantidade de matéria de um corpo.(...) (13)
b) Extensão é a porção do espaço ocupada pela matéria. Toda matéria ocupa um determinado lugar no espaço.
c) Impenetrabilidade: "Duas porções de matéria não podem, ao mesmo tempo, ocupar o mesmo lugar no espaço. (...)" (14)
d) inércia: "Quando um corpo, formado naturalmente por matéria, está em repouso, é necessário uma força para colocá-lo em movimento. Se o corpo estiver em movimento, é necessário uma força para alterá-lo ou fazer o corpo parar. (...)" (13)
e) divisibilidade: "(...) Podemos dividir um corpo ou pulverizá-lo ate certo limite. (...)" (14)
"As partículas são formadas de partículas menores, chamadas átomos" (14) É interessante definir, também, que "Matéria é tudo o que possui massa e extensão. Corpo é uma porção limitada da matéria e Substâncias são as diferentes espécies de matéria. (...)" (12) A matéria tal como e conceituada pela Ciência é ponderável, isto é, pode ser pesada.
O fluido universal, apesar de desempenhar "(...) o papel intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita (...)" (06) e podendo, "(...) de certo ponto de vista, ser lícito classificá-lo com o elemento material (...)" (06), é imponderável. É uma das propriedades especiais de que nos falam os Espíritos nos ensinos da Codificação. Com relação a outra propriedade da matéria, vejamos o que Kardec nos apresenta em "O Livro dos Espíritos":
"A matéria é formada de um só ou de muitos 'elementos? De um só elemento primitivo. Os corpos que considerais simples não são verdadeiros elementos, são transformações da matéria primitiva." (07) "Donde se originam as diversas propriedades da matéria? - São modificações que as moléculas elementares sofrem, por efeito da sua união, em certas circunstâncias." (08) "A mesma matéria elementar é suscetível de experimentar todas as modificações e de adquirir todas as propriedades? - Sim, e é isso que se deve entender, quando dizemos que tudo esta em tudo! {...) Não parece que esta teoria dá razão aos que não admitem na matéria senão duas propriedades essenciais : a força e o movimento, entendendo que todas as demais propriedades não passam de efeitos secundários, que variam conforme a intensidade da força e a direção do movimento? - É acertada essa opinião. Falta apenas acrescentar: e conforme à disposição das moléculas, como o mostra, por exemplo, um corpo opaco, que pode tornar-se transparente e vice-versa." (09)
Finalmente, completando o assunto sobre as propriedades da matéria, Allan Kardec pergunta aos Espíritos superiores : "As moléculas tem forma determinada? - Certamente, as moléculas têm uma forma, porém, não sois capazes de apreciá-la. Essa forma é constante ou variável? - Constante a das moléculas elementares primitivas; variável a das moléculas secundárias, que mais não são do que aglomerações das primeiras. Porque, o que chamais molécula longe ainda esta da molécula elementar." (10)
Estas últimas afirmações dos Espíritos, que Kardec registrou com absoluta fidelidade, constituem admirável antecipação das verdades sobre a descontinuidade da matéria e a sua unicidade, a primeira já totalmente provada experimentalmente pela Ciência e a segunda admitida por ela como inteiramente provável. De fato, embora se considerem hoje, na base da constituição da matéria - como conseqüência de notáveis investigações experimentais da Ciência - além das moléculas e dos átomos, numerosas outras partículas, de modo que a nomenclatura aplicada a essas partículas ou corpúsculos incluem outras denominações, tais como hádrons e léptens , subdivididos os hádrons em mésons e bárions ( incluindo os bárions os neutrons e prótons dos núcleos atômicos) e os léptons em neutrinos, muons e elétrons.
Ao tempo em que Kardec escreveu, entretanto, as partículas consideradas como às menores porções das substâncias chamavam-se mesmo moléculas, eram as moléculas constituintes das substâncias simples, formadas pela união, dois a dois, dos átomos de um único elemento químico (como o gás oxigênio representado pela fórmula O2, o gás hidrogênio H2, o gás cloro Cl2 etc. ) e as moléculas integrantes das substâncias compostas, por sua vez formadas pela combinação de átomos de dois ou mais elementos, em determinadas proporções (como o gás clorídrico HCl, o vapor de água H2O, o gás carbônico CO2, o ácido sulfúrico H2SO4, etc.).
Allan Kardec não podia, portanto, empregar outro termo senão moléculas para designar as menores partículas das substâncias, tanto as que representam a matéria densa, como aqueles estados sutis da matéria que derivam diretamente do fluido universal, que é o próprio fluido elementar primitivo.
Entretanto - sem a nomenclatura que fornece os termos de hoje, na era da Atomística e da quantificação da energia, da interação de partículas em campos de forças gerados por essas mesmas partículas -, ele, Kardec, traduzindo o pensamento dos Espíritos, estabeleceu categoricamente, em termos de generalização, as duas grandes verdades que a Ciência vem confirmando dia-a-dia: o da descontinuidade da matéria, em todas as suas modalidade, mais e menos densas, e a da sua unicidade, de origem, isto é, de que a matéria é una; apesar de sua aparente diversidade, todas as modalidades de substâncias, não sendo mais que modificações da matéria cósmica ou substância elementar primitiva, elemento único de que deriva tudo o que é material no Universo. Todo louvor, pois, a Kardec, cuja obra em vez de consignar um erro ou um engano, muito ao contrário, registra, em termos de generalidade, uma admirável antecipação da verdade.
Referências:
01 - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. de Guillon Ribeiro, 57. ed. Rio de Janeiro, FEB, .1983, Questão 17, p. 57.
02 - Op. cit., questão 18. pag. 57.
03 - Op. cit., questão 19, pag. 57.
04 - Op. cit., questão 20, pag. 58
05 - Op. cit., questão 22, pag. 58
06 - Op. cit., questão 27, pag. 59 e 60.
07 - Op. cit., questão 30, pag. 61
08 - Op. cit., questão 31, pag. 61
09 - Op. cit., questão 33, pag. 62 63
10 - Op. cit., questão 34, pag. 63.
11 - O Livro dos Médiuns Trad. de Guillon Ribeiro, 45 ed. Rio de Janeiro, FEB, 1982, item 74, pag. 8586
12. DUARTE, José Coimbra. Ciências Físicas e Biológicas. 26. ed. Rio de Janeiro, Nacional, 1975. pag. 17.
13. Op. cit., pag. 18. 14. Op. cit., pag. 19.

Monday, January 23, 2006

Caráter da Revelação Espírita

Revelar, do latim revelare, cuja raiz, velum, véu, significa literalmente sair de sob o véu — e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. Em sua acepção vulgar mais genérica, essa palavra se emprega a respeito de qualquer coisa ignota que é divulgada, de qualquer idéia nova que nos põe ao corrente do que não sabíamos.

Deste ponto de vista, todas as ciências que aos fazem conhecer os mistérios da Natureza são revelações e pode dizer-se que há para a Humanidade uma revelação incessante. A Astronomia revelou o mundo astral, que não conhecíamos; a Geologia revelou a formação da Terra; a Química, a lei das afinidades; a Fisiologia, as funções do organismo, etc.; Copérnico, Galileu, Newton, Laplace, Lavoisier foram reveladores.

A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um fato e, por conseqüência, não existe revelação. Toda revelação desmentida por fatos deixa de o ser, se for atribuída a Deus. Não podendo Deus mentir, nem se enganar, ela não pode emanar dele: deve ser considerada produto de uma concepção humana.

(...)

Desde que se admite a solicitude de Deus para com as suas criaturas, por que não se há de admitir que Espíritos capazes, por sua energia e superioridade de conhecimento, de fazerem que a Humanidade avance, encarnem pela vontade de Deus, com o fim de ativarem o progresso em determinado sentido? Por que não admitir que eles recebam missões, como um embaixador as recebe do seu soberano? Tal o papel dos grandes gênios. Que vêm eles fazer, senão ensinar aos homens verdades que estes ignoram e ainda ignorariam durante largos períodos, a fim de lhes dar um ponto de apoio mediante o qual possam elevar-se mais rapidamente? Esses gênios, que aparecem através dos séculos como estrelas brilhantes, deixando longo traço luminoso sobre a Humanidade, são missionários ou, se o quiserem, messias. O que de novo ensinam aos homens, quer na ordem física, quer na ordem filosófica, são revelações. Se Deus suscita reveladores para as verdades científicas, pode, com mais forte razão, suscitá-los para as verdades morais, que constituem elementos essenciais do progresso. Tais são os filósofos cujas idéias atravessam os séculos.

No sentido especial da fé religiosa, a revelação se diz mais particularmente das coisas espirituais que o homem não pode descobrir por meio da inteligência, nem com o auxílio dos sentidos e cujo conhecimento lhe dão Deus ou seus mensageiros, quer por meio da palavra direta, quer pela inspiração. Neste caso, a revelação é sempre feita a homens predispostos, designados sob o nome de profetas ou messias, isto é, enviados ou missionários, incumbidos de transmiti-la aos homens. Considerada debaixo deste ponto de vista, a revelação implica a passividade absoluta e é aceita sem verificação, sem exame, nem discussão.

Todas as religiões tiveram seus reveladores e estes, embora longe estivessem de conhecer toda a verdade, tinham uma razão de ser providencial, porque eram apropriados ao tempo e ao meio em que viviam, ao caráter particular dos povos a quem falavam e aos quais eram relativamente superiores. Apesar dos erros das suas doutrinas, não deixaram de agitar os espíritos e, por isso mesmo, de semear os germens do progresso, que mais tarde haviam de desenvolver-se, ou se desenvolverão à luz brilhante do Cristianismo. É, pois, injusto se lhes lance anátema em nome da ortodoxia, porque dia virá em que todas essas crenças tão diversas na forma, mas que repousam realmente sobre um mesmo princípio fundamental — Deus e a imortalidade da alma, se fundirão numa grande e vasta unidade, logo que a razão triunfe dos preconceitos. Infelizmente, as religiões hão sido sempre instrumentos de dominação; o papel de profeta há tentado as ambições secundárias e tem-se visto surgir uma multidão de pretensos reveladores ou messias, que, valendo-se do prestigio deste nome, exploram a credulidade em proveito do seu orgulho, da sua ganância, ou da sua indolência, achando mais cômodo viver à custa dos iludidos. A religião cristã não pôde evitar esses parasitas. A tal propósito, chamamos particularmente a atenção para o capítulo XXI de O Evangelho segundo o Espiritismo; “Levantar-se-ão falsos Cristos e falsos profetas”.

Haverá revelações diretas de Deus aos homens? É uma questão que não ousaríamos resolver, nem afirmativamente, nem negativamente, de maneira absoluta. O fato não é radicalmente impossível, porém, nada nos dá dele prova certa. O que não padece dúvida é que os Espíritos mais próximos de Deus pela perfeição se imbuem do seu pensamento e podem transmiti-lo. Quanto aos reveladores encarnados, segundo a ordem hierárquica a que pertencem e o grau a que chegaram de saber, esses podem tirar dos seus próprios conhecimentos as instruções que ministram, ou recebê-las de Espíritos mais elevados, mesmo dos mensageiros diretos de Deus, os quais, falando em nome de Deus, têm sido às vezes tomados pelo próprio Deus.

As comunicações deste gênero nada têm de estranho para quem conhece os fenômenos espíritas e a maneira pela qual se estabelecem as relações entre os encarnados e os desencarnados. As instruções podem ser transmitidas por diversos meios: pela simples inspiração, pela audição da palavra, pela visibilidade dos Espíritos instrutores, nas visões e aparições, quer em sonho, quer em estado de vigília, do que há muitos exemplos na Bíblia, no Evangelho e nos livros sagrados de todos os povos. É, pois, rigorosamente exato dizer-se que quase todos os reveladores são médiuns inspirados, audientes ou videntes. Daí, entretanto, não se deve concluir que todos os médiuns sejam reveladores, nem, ainda menos, intermediários diretos da divindade ou dos seus mensageiros.

Só os Espíritos puros recebem a palavra de Deus com a missão de transmiti-la; mas, sabe-se hoje que nem todos os Espíritos são perfeitos e que existem muitos que se apresentem sob falsas aparências, o que levou S. João a dizer:«Não acrediteis em todos os Espíritos; vede antes se os Espíritos são de Deus.» (Epíst. 1ª, cap. IV, v. 4.)

O Espiritismo, dando-nos a conhecer o mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivíamos sem o suspeitarmos, assim como as leis que o regem, suas relações com o mundo visível, a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem depois da morte, é uma verdadeira revelação, na acepção científica da palavra.

Por sua natureza, a revelação espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica. Participa da primeira, porque foi providencial o seu aparecimento e não o resultado da iniciativa, nem de um desígnio premeditado do homem; porque os pontos fundamentais da doutrina provêm do ensino que deram os Espíritos encarregados por Deus de esclarecer os homens acerca de coisas que eles ignoravam, que não podiam aprender por si mesmos e que lhes importa conhecer, hoje que estão aptos a compreendê-las. Participa da segunda, por não ser esse ensino privilégio de indivíduo algum, mas ministrado a todos do mesmo modo; por não serem os que o transmitem e os que o recebem seres passivos, dispensados do trabalho da observação e da pesquisa, por não renunciarem ao raciocínio e ao livre-arbítrio; porque não lhes é interdito o exame, mas, ao contrário, recomendado; enfim, porque a doutrina não foi ditada completa, nem imposta à crença cega; porque é deduzida, pelo trabalho do homem, da observação dos fatos que os Espíritos lhe põem sob os olhos e das instruções que lhe dão, instruções que ele estuda, comenta, compara, a fim de tirar ele próprio as ilações e aplicações. Numa palavra, o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem.

Allan Kardec, A Gênese, Cap. 1 (Recomenda-se a leitura integral do capítulo)

Wednesday, January 18, 2006

Conhecimento do princípio das coisas


Segundo nos informam os espíritos na Codificação, “Deus não permite que ao homem tudo seja revelado neste mundo.” Assim, não lhe é dado conhecer o princípio das coisas. Somente à medida que ele se depura é que o véu das coisas ocultas “se levanta a seus olhos; mas, para compreender certas coisas, são precisas faculdades que ainda não possui.”

Pela ciência, que lhe foi dada para seu adiantamento em todas as coisas, pode o homem usando a investigação, penetrar alguns segredos da natureza. “Porém, não pode ultrapassar os limites que Deus estabeleceu.”

E Allan Kardec, anota:

“Quanto mais consegue o homem penetrar nesses mistérios, quanto maior admiração lhe devem causar o poder e a sabedoria do criador. No entanto, seja por orgulho ou por fraqueza, a sua própria inteligência fá-lo joguete da ilusão. Ele amontoa sistemas sobre sistemas, e cada dia que passa lhe mostra quantos erros tomou por verdades e quantas verdades rejeitou como erros. São outras tantas decepções para o seu orgulho.”

Outrossim, se julgar conveniente, Deus pode revelar ao homem o que à ciência não é dado apreender. Desse modo, o homem pode receber comunicações de ordem mais elevadas acerca do que lhe escapa ao testemunho dos sentidos. É por essas comunicações “que o homem adquire, dentro de certos limites, o conhecimento do seu passado e do seu futuro.”

Em "Obras Póstumas", de Allan Kardec, 1.ª parte, § 3.º, encontramos: “O princípio das coisas reside nos arcanos de Deus.”

Tudo diz que Deus é o autor de todas as coisas, mas como, e quando, as criou ele? A matéria existe, como ele, de toda a eternidade? Ignoramo-lo. Acerca de tudo, que ele não julgou conveniente revelar-nos, apenas se podem erguer sistemas, mais ou menos prováveis. Dos efeitos que observamos, podemos remontar a algumas causas. Há, porém, um limite, que não nos é possível transpor. Querer ir além é, simultaneamente, perder tempo e cair em erro.”

Retirado do site: http://www.espirito.org.br/portal/cursos/cbe-adep/caderno04-o-principio.html

Tuesday, January 17, 2006

Definição de Deus

Pode-se levar mais longe do que temos feito a defi­nição de Deus? Definir é limitar. Em face deste grande problema, a fraqueza humana aparece. Deus impõe-se ao nosso espírito, porém escapa a toda análise. O Ser que enche o tempo e o espaço não será jamais medido por seres limitados pelo tempo e pelo espaço. Querer definir Deus seria circunscrevê-lo e quase negá-lo.
As causas secundárias da vida se explicam, mas a causa primária permanece inacessível em sua Imensida­de. Só chegaremos a compreendê-la depois de termos atravessado a morte bastantes vezes.

Para resumir, tanto quanto podemos, tudo o que pen­samos referente a Deus, diremos que Ele é a Vida, a Razão, a Consciência em sua plenitude. É a causa eter­namente operante de tudo o que existe. É a comunhão universal onde cada ser vai sorver a existência, a fim de, em seguida, concorrer, na medida de suas faculdades crescentes e de sua elevação, para a harmonia do con­junto.

Eis-nos bem longe do Deus das religiões, do Deus “forte e cioso” que se cerca de coriscos, reclama vítimas sangrentas e pune os réprobos por toda a eternidade. Os deuses antropomórficos passaram. Fala-se ainda muito de um Deus a quem são atribuídas as fraquezas e as pai­xões humanas, porém esse Deus vê todos os dias diminuir o seu império.
Até aqui o homem só viu Deus através de seu próprio ser, e a idéia que dele fez variava segundo o contemplava por uma ou outra de suas faculdades. Considerado pelo prisma dos sentidos, Deus é múltiplo; todas as forças da Natureza são deuses; assim nasceu o Politeismo. Visto pela inteligência, Deus é duplo: espírito e matéria; daí o Dualismo. A razão esclarecida ele aparece triplo: alma, espírito e corpo. Esta concepção deu nascimento às reli­giões trinitárias da Índia e ao Cristianismo. Percebido pela vontade, faculdade soberana que resume todas as outras, compreendido pela intuição íntima, que é uma propriedade adquirida lentamente, assim como todas as faculdades do gênio, Deus é Uno e Absoluto. Nele se ligam os três princípios constitutivos do Universo para formarem uma Unidade viva.

Assim se explica a diversidade das religiões e dos sis­temas, tanto mais elevados quanto têm sido concebidos por espíritos mais puros e mais esclarecidos. Quando se consideram as coisas por cima, as oposições de Idéias, as religiões e os fatos históricos se explicam e se reconci­liam numa síntese superior.

A idéia de Deus, debaixo das formas diversas em que o têm revestido, evolve entre dois escolhos nos quais es­barraram numerosos sistemas. Um é o Panteísmo, que conclui pela absorção final dos seres no grande Todo. Outro é a noção do Infinito, que do homem afasta Deus, e por tal sorte que até parece suprimir toda a relação entre ambos.

A noção do infinito foi combatida por certos filóso­f os. Embora incompreensível, não se poderia abandoná-la, porque reaparece em todas as coisas. Por exemplo: que há de mais sólido do que o edifício das ciências exatas? O número é a sua base. Sem o número não há matemá­ticas. Ora, é impossível, decorressem mesmo séculos, en­contrar o número que exprima a Infinidade dos números cuja existência o pensamento nos demonstra. O número é Infinito; o mesmo sucede com o tempo e com o espa­ço. Além dos limites do mundo Invisível, o pensamento procura outros limites que incessantemente se furtam à sua apreensão.

Depois da Morte, Léon Denis, Cap. IX, pág. 121.

Monday, January 16, 2006

DEUS

Allan Kardec colocou logo no inicio de “O Livro dos Espíritos” um capítulo que trata exclusivamente de Deus. Com isso pretendeu significar que o Espiritismo se baseia em primeiro lugar na idéia de um Ser Supremo.

Os Espíritos definiram Deus como “(...) a Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas.” (01) Ora, nesse conjunto imenso de mundos e coisas que constituem o Universo, tal é a grandeza, a magnitude, e são tais a ordem e a harmonia, que, tudo isso, pairando infinitamente acima da capacidade do homem, só pode atribuir-se a Onipotência criadora de um Ser Supremamente inteligente e sábio, Criador necessário do tudo que existe. Deus, porém, não pode ser percebido pelo homem em sua divina essência. Mesmo depois de desencarnado, dispondo de faculdades perceptivas menos materiais, não pode ainda o Espírito imperfeito perceber totalmente a natureza divina.

Pode, entretanto o homem, ainda no estágio de relativa inferioridade em que se encontra, ter convincentes provas de que Deus existe, mas advindas por dois outros caminhos, que transcendem aos dos sentidos: o da razão e o do sentimento.

Racionalmente, não é possível admitir um efeito sem causa. Olhando o Universo imenso, a extensão infinita do espaço, a ordem e harmonia a que obedece a marcha dos mundos inumeráveis; olhando ainda os seres da Natureza, Os minerais com suas admiráveis formas cristalinas, o reino vegetal em sua exuberância, numa variedade de plantas quase infinita,
Os animais com seus portes altivos ou a fragrância de certas aves e as miríades de insetos; sondando também o mundo microscópico com incontáveis formas unicelulares; toda essa imensidão, profusão e beleza nos obriga a crer em Deus, como causa necessária. Mas se preferirmos contemplar apenas o que é o nosso próprio corpo, quanta harmonia também divisaremos na nossa roupagem física, nas funções que se exercem a revelia de nossa vontade num ritmo perfeito. Nas maravilhas que São os nossos sentidos; os olhos admiravelmente dispostos para receber a luz refletida nos corpos, condicionando no piano físico a percepção dos
objetos e das cores; o ouvido, adredemente estruturado a percepção de sons, melodias e grandiosas sinfonias; o olfato, o gosto, o tato, outros tantos sentidos que nos permitem instruir-
nos sobre a objetividade das coisas. Toda essa perfeição, a harmonia da natureza humana e do mundo exterior ao homem, só pode ser criação de um Ser Supremamente Inteligente e Sábio, o qual chamamos de Deus.

É pelo sentimento, mais do que pelo raciocínio, que o homem pode compreender a existência de Deus. Porém, há no homem, desde o mais primitivo até o mais civilizado, a idéia inata da existência de Deus. Acima, pois, do raciocínio lógico prova-nos a existência de Deus a intuição que dele temos. E, Jesus, ensinado-nos a orar no-lo revelou como o Pai: Pai Nosso, que estás no Céu, Santificado seja o teu nome (...) (02)

ESDE
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita
Programa II
Unidade 1
Sub-unidade 1

O Espiritismo, portanto, tem na existência de Deus o princípio maior, que está na base mesma desta Doutrina. Sem pretender dar ao homem o conhecimento da Natureza Intima de Deus, permite-se argumentar que prova a sua existência a realidade palpitante e viva do Universo.
Se este existe, há de ter um divino Autor.

TEXTO 2

“(...) A história da idéia de Deus mostra-nos que ela sempre foi relativa ao grau de intelectualidade dos povos e de seus legisladores, correspondendo aos movimentos civilizadores, a poesia dos climas, as raças, a florescência de diferentes povos; enfim, aos progressos
espirituais da Humanidade. Descendo pelo curso dos tempos, assistimos sucessivamente aos desfalecimentos e tergiversações dessa idéia imperecível, que, as vezes fulgurante e outras vezes eclipsada, pode, todavia, ser identificada sempre, nos fastos da Humanidade.” (05)

Nos movimentos revolucionários que aos poucos foram transformando a mentalidade da sociedade humana; as custas das idéias, opiniões e conceitos emitidos pelos sábios, filósofos, cientistas ou religiosos, podemos dizer que se de um lado (...) a ignorância havia humanizado Deus (...) a Ciência diviniza-o (...)” (04) por outro.

“(...) Outrora, Deus foi homem; hoje Deus é Deus. (...) O Ser Supremo, criado a imagem do homem, hoje vê apagar-se pouco a pouco essa imagem, substituída por uma realidade sem forma. (...) Outrora, Júpiter empunhava o raio, Apolo conduzia o Sol, Netuno senhoreava os mares... Na idolatria dos budistas, Deus ressuscitava um morto sobre o Tumulo de um santo, fazia falar um mudo, ouvir um surdo, crescer um carvalho numa noite, emergir d’água um afogado... Desvendava a um estático as zonas do terceiro céu, imunizava do fogo, são e salvo, um santo mártir, transportava um pregador, num abrir e fechar de olhos, a cem léguas de distância, e derrogava, a cada momento, as suas próprias, eternas leis... (...) A maioria dos crentes em Deus o conceituam como um super-homem, alhures assentado acima das nossas cabeças, presidindo os nossos atos. (...)” (04)

Na realidade, pouco sabemos sobre a natureza divina. “(...) Ele não é o Varouna dos árias, o Elim dos egípcios, o Tien dos chineses, o Ahoura-Mazda dos persas, o Brama ou Buda dos indianos, o Jeová dos hebreus, o Zeus dos gregos, o Júpiter dos latinos, nem o que os pintores da Idade Media entronizaram na cúspide dos céus.

Nosso Deus é um Deus ainda desconhecido, qual o era para os Vedas e para os sábios do Areópago de Atenas. (...)” (04) No entanto, no estado evolutivo em que nos encontramos podemos sentir “(...) que Deus não é abstração metafísica (...) ideal que não existe (...). Não,
Deus é um ser vivo, sensível, consciente. Deus é uma realidade ativa. Deus e nosso pai, nosso guia, nosso condutor, nosso melhor amigo; por pouco que lhe dirijamos nossos apelos e que lhe abramos nosso coração, Ele nos esclarecerá, com sua luz, nos aquecerá no seu amor, expandirá sobre nós sua Alma imensa, sua Alma rica de todas as perfeições; por Ele e nEle somente nos sentiremos felizes e verdadeiramente irmãos; fora dEle só encontraremos obscuridade, incerteza, decepção, dor e miséria moral. (...)”. (03)

Tal é o conceito que a nossa inteligência, na fase evolutiva em que se encontra, pode fazer de Deus.

Texto Extraído do Programa II do ESDE Editado Pela FEB

FONTES DE CONSULTA
01 - KARDEC, Allan, In: O Livro dos Espíritos. Trad. de Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro,
FEB, 76. ed., 1995. Perg. 1. pág 51.
02 - Perg. 09 e comentário, pág. 53.
03 - DENIS, Léon. Ação de Deus no Mundo e na História. In: . O Grande Enigma. 7. ed. Rio
de Janeiro, FEB, 1983. Pág. 106.
04 - FLAMMARION, Camille. Deus. In: Deus na Natureza. Trad. De M. Quintão. 5. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 1987. págs. 383-384.
05 - Pág. 385.

Friday, January 13, 2006

Sistema do reflexo

Reconhecida a ação inteligente, restava saber donde provinha essa inteligência. Julgou-se que bem podia ser a do médium, ou a dos assistentes, a se refletirem, como a luz ou os raios sonoros. Era possível: só a experiência poderia dizer a última palavra. Mas, notemos, antes de tudo, que este sistema já se afasta por completo da idéia puramente materialista. Para que a inteligência dos assistentes pudesse reproduzir-se por via indireta, preciso era se admitisse existir no homem um princípio exterior do organismo.
Se o pensamento externado fora sempre o dos assistentes, a teoria da reflexão estaria confirmada. Mas, embora reduzido a estas proporções, já não seria do mais alto interesse o fenômeno? Já não seria coisa bastante notável o pensamento a repercutir num corpo inerte e a se traduzir pelo movimento e pelo ruído? Já não haveria aí o que excitasse a curiosidade dos sábios? Por que então a desprezaram eles, que se afadigam na pesquisa de uma fibra nervosa?
Só a experiência, dizemos, podia confirmar ou condenar essa teoria, e a experiência a condenou, porquanto demonstra a todos os momentos, e com os mais positivos fatos, que o pensamento expresso, não somente pode ser estranho ao dos assistentes, mas que lhes é, muitas vezes, contrário; que contradiz todas as idéias preconcebidas e frustra todas as previsões. Com efeito, difícil me é acreditar que a resposta provenha de mim mesmo, quando, a pensar no branco, se me fala em preto.
Em apoio da teoria que apreciamos, costumam invocar certos casos em que são idênticos o pensamento manifestado e o dos assistentes. Mas, que prova isso, senão que estes podem pensar como a inteligência que se comunica? Não há por que pretender-se que as duas opiniões devam ser sempre opostas.Quando, no curso de uma conversação, o vosso interlocutor emite um pensamento análogo ao que vos está na mente, direis, por isso, que de vós mesmos vem o seu pensamento? Bastam alguns exemplos em contrário, bem comprovados, para que positivado fique não ser absoluta esta teoria.
Como explicar, pela reflexão do pensamento, as escritas feitas por pessoas que não sabem escrever; as respostas do mais alto alcance filosófico, obtidas por indivíduos iletrados; as respostas dadas a perguntas mentais, ou em língua que o médium desconhece e mil outros fatos que não permitem dúvida sobre a independência da inteligência que se manifesta? A opinião oposta não pode deixar de resultar de falta de observação.
Provada, como está, moralmente, pela natureza das respostas, a presença de uma inteligência diversa da do médium e da dos assistentes, provada também o está, materialmente, pelo fato da escrita direta, isto é, da escrita obtida espontaneamente, sem lápis, nem pena, sem contacto e mau grado a todas as precauções tomadas contra qualquer subterfúgio. O caráter inteligente do fenômeno não pode ser posto em dúvida: logo, há nele mais alguma coisa do que uma ação fluídica. Depois, a espontaneidade do pensamento expresso contra toda expectativa e sem que alguma questão tenha sido formulada, não consente se veja nele um reflexo dos assistentes.
Em alguns casos, o sistema do reflexo é bastante descortês. Quando, numa reunião de pessoas honestas, surge inopinadamente uma dessas comunicações de revoltante grosseria, fora desatencioso, para com os assistentes, pretender-se que ela haja provindo de um deles, sendo provável que cada um se daria pressa em repudiá-la. (Vede O Livro dos Espíritos, “Introdução”, § 16.)

Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, 1ª Parte, Cap. 4, item 43.

Thursday, January 12, 2006

Sistema sonambúlico

Mais adeptos teve este (sistema), que ainda conta alguns. Admite (...) que todas as comunicações inteligentes provêm da alma ou Espírito do médium. Mas, para explicar o fato de o médium tratar de assuntos que estão fora do âmbito de seus conhecimentos, em vez de supor a existência, nele, de uma alma múltipla, atribui essa aptidão a uma sobreexcitação momentânea de suas faculdades mentais, a uma espécie de estado sonambúlico, ou extático, que lhe exalta e desenvolve a inteligência. Não há negar, em certos casos, a influência desta causa. Porém, a quem tenha observado como opera a maioria dos médiuns, essa observação basta para lhe tornar evidente que aquela causa não explica todos os fatos, que ela constitui exceção e não regra.
Poder-se-ia acreditar que fosse assim, se o médium tivesse sempre ar de inspirado ou de extático, aspecto que, aliás, lhe seria fácil aparentar perfeitamente, se quisesse representar uma comédia. Como, porém, se há de crer na inspiração, quando o médium escreve como uma máquina, sem ter a mínima consciência do que está obtendo, sem a menor emoção, sem se ocupar com o que faz, distraído, rindo e conversando de uma coisa e de outra? Concebe-se a sobreexcitação das idéias, mas não se compreende possa fazer que uma pessoa escreva sem saber escrever e, ainda menos, quando as comunicações são transmitidas por pancadas, ou com o auxílio de uma prancheta, de uma cesta.
No curso desta obra (O Livro dos Médiuns), teremos ocasião de mostrar a parte que se deve atribuir à influência das idéias do médium.Todavia, tão numerosos e evidentes são os fatos em que a inteligência estranha se revela por meio de sinais incontestáveis, que não pode haver dúvida a respeito. O erro da maior parte dos sistemas, que surgiram nos primeiros tempos do Espiritismo, está em haverem deduzido, de fatos insulados, conclusões gerais.

Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, 1ª Parte, Cap. IV, item 45.

Provas de identidade

Graças ao espiritualismo experimental, o problema da sobrevivência, onde as conseqüências filosóficas e morais são incalculáveis, recebeu uma solução definitiva. A alma se tornou objetiva, perfeitamente tangível : sua existência se revela, após a morte como durante a vida, pelas manifestações de toda ordem.
Os fenômenos físicos ofereceram de início apenas uma base insuficiente de argumentação ; mas, depois, os fatos se revestiram de um caráter inteligente. Eles foram acentuados ao ponto de que toda negação se tornou impossível.
É pelas provas positivas que a questão da existência da alma e de sua imortalidade foram decididas. As radiações do pensamento foram fotografadas ; o espírito, revestido de seu corpo fluídico, de seu envelope imperecível, aparece sobre a placa sensível. Sua existência se mostra assim tão certa quanto a do corpo físico.
A identidade dos Espíritos é estabelecida por fatos inumeráveis ; cremos dever citar alguns:
O Sr. Oxon (Stainton Moses), professor na Universidade de Oxforrd, em seu livro 'Spirit Identity', relata o caso onde uma mesa fez uma narração longa e circunstanciada da morte, da idade, até o nome do mês, e dos nomes (quatro para um dentre eles e três para um outro) de três pequenos seres, filhos de um mesmo pai, que tinham sido levados subitamente pela morte. " Nenhum de nós tinha conhecimento desses nomes pouco comuns. Foram mortos na Índia, e, quando a mensagem nos foi dada, não tínhamos nenhum meio aparente de verificação. " Esta revelação foi entretanto controlada e reconhecida sua exatidão mais tarde, pela testemunha da mãe das crianças, que o Sr. Oxon conheceu posteriormente.
O mesmo autor cita o caso de um senhor chamado Abraham Florentine, morto nos Estados Unidos, totalmente desconhecido dos experimentadores, e cuja identidade foi rigorosamente constatada, assim como a data de sua morte : 5 de Agosto de 1874. Oxon concluiu quanto a esse fato : " Há, no caráter da prova singularmente significativa que tínhamos obtido nessa ocasião, uma demonstração muito evidente do retorno daqueles nos deixaram, que não pode falhar de fornecer aos leitores matéria para as mais sérias reflexões.. Um fato positivo, é que jamais nenhum dentre nós tinha ouvido falar de Abraham Fiorentine ; não tínhamos amigos na América que nos dessem as novidades do que se passava, e, mesmo que algo tivéssemos tido, teriam então certamente falado de uma circunstância que não nos interessava de nenhuma forma. Para concluir, afirmo novamente, no interesse da verdade, que o nome, como também os fatos, eram totalmente desconhecido a nós três. "
A história de Siegwart Lekebush, jovem alfaiate que pereceu esmagado por um trem na ferrovia, prova ainda que é contrário à verdade afirmar que as personalidades que se manifestam pela mesa são sempre conhecidos dos assistentes.
Segundo Animismo e Espiritismo, de Aksakof, a identidade póstuma dos espíritos prova-se :
Pelas comunicações da personalidade em sua língua materna, ignorada do médium (ver p.538, o caso da Sra. Edmonds, do Sr. Turner, da Sra. Scongall e da Mme Corwin, que se entendeu com um dos participantes por meio de gestos emprestados ao alfabeto dos surdo-mudos, que lhe era desconhecido no estado de vigília).
Por meio de comunicações dadas no estilo característico do defunto, com as expressões que lhe eram familiares, recebidas na ausência de pessoas que o tinham conhecido (p. 543). " Acabamento de um romano " de Dickens, Edwin Drood, por um jovem trabalhador iletrado, sem que fosse possível constatar onde termina o manuscrito original e onde começa a comunicação medianímica.Ver por exemplo a história de Luís XI, escrita pela Srta. Hermance Dufaux, com 14 anos de idade (Revista Espírita, 1858). Esta história, muito documentada, contém informações até então inéditas.
Pelos fenômenos da escrita onde se reconhece aquela do defunto (p. 345). Carta da Sra. Livermore, escrita por ela mesma após sua morte. Este espírito estabeleceu sua identidade mostrando, escrevendo e conversando como fazia durante sua vida.
Fato notável : o espírito escreveu, em francês mesmo, língua ignorada pela médium, Kate Fox.

O caso onde o Sr. Owen obtém uma assinatura do espírito que foi reconhecida como idêntica por um banqueiro (ver Guldenstubbe, La Réalité des Esprits). Escrita direta de uma parente do autor, reconhecida idêntica à sua escrita quando vivo (Esses fatos têm sido obtidos inúmeras vezes em nosso próprio círculo de experiências).
Pelas comunicações contendo um conjunto de detalhes relativos à vida do defunto, e recebidas na ausência de qualquer pessoa conhecida (ver p. 436). Pela mediunidade da Sra. Conant, um grande número de espíritos desconhecidos da médium tem sido identificados com pessoas que viveram em diferentes países (p. 559 e seguintes). O caso do velho Chamberlain, aquele de Violette, de Robert Dale Owen, etc.
Pela comunicação de fatos que só eram conhecidos pelo defunto e que, sozinho, pode comunicar (ver p. 466). O caso dos filhos do doutor Davey, envenenado e jogado no mar, fato reconhecido exato pelo seguinte : descoberta do testamento do barão Korff ; o espírito Jack, que indica o que ele devia e o que lhe era devido, etc.
Pelas comunicações que não são espontâneas, como aquelas que precedem, mas provocadas pelos apelos diretos do defunto, e recebidas na ausência de pessoas que o conheciam (ver p. 585). Resposta, pelos espíritos, a cartas fechadas (médium Mansfield). Escrita direta dando resposta à uma questão desconhecida do médium, o Sr. Watkins.
Pelas comunicações recebidas na ausência de todas as pessoas conhecidas do defunto, e que trazem certos estados psíquicos ou provocam sensações físicas que lhe eram próprias (p. 597). O espírito de uma louca, ainda perturbada no espaço. O caso do Sr. Elie Pond, de Woonsoket, etc.(Esses fenômenos são produzidos em número considerável de vezes nas seções dirigidas por nós mesmos).
Pela aparição da forma terrestre do defunto (p. 605).
Por vezes, os espíritos possuem defeitos naturais de seu organismo material para se fazerem reconhecer após sua morte, reproduzindo esses acidentes nas materializações. Algumas vezes, é uma mão com dois dedos recurvados sobre a palma, outra de uma queimadura, ou bem como o indicador dobrado sobre a segunda falange, etc.


Para saber mais:


O mundo invisível e a guerra Léon Denis (c. XXV, Provas de identidade)
Cristianismo e Espiritismo Léon Denis (n°12, Os fenômenos espíritas contemporâneos; provas de identidade)
No Invisível Léon Denis (2ª parte, cap. XXI, Identidade dos Espíritos)
O fenômeno Espírita Gabriel Delanne (2ª parte, c. II, Provas absolutas…)
La société anglo-américaine pour les recherches psychiques de Bennet (ch. VI, Preuves de l'existence d'intelligences autres…)
Aprés la mort de Camille Flammarion (ch. XI, Les manifestations des morts…)
Raymond ou la vie après la mort de Sir Oliver Lodge

Retirado do site: http://www.espirito.org.br/portal/artigos/unidual/curso-43.html

Wednesday, January 11, 2006

O Segredinho da Vida

TODOS OS CORPOS (minerais, vegetais, animados ou inanimados, os sólidos , os líquidos ou os gasosos) QUALQUER QUE SEJA SUA VARIEDADE PODEM SER CLASSIFICADOS EM DOIS GRUPOS:

1. SERES ORGÂNICOS: TRAZEM EM SI UMA FONTE DE ATIVIDADE INTIMA QUE LHES DA A VIDA, ELES NASCEM, CRESCEM, REPRODUZEM POR SI SÓ E MORREM. SÃO ELES OS HOMENS, PLANTAS E ANIMAIS.

2. SERES INORGÂNICOS: NÃO POSSUEM ESSA FONTE DE ATIVIDADE, NÃO TEM MOVIMENTOS PROPRIOS E SE FORMAM POR AGREGAÇÃO DA MATERIA. SÃO ELES OS MINERAIS (oxigênio, hidrogênio, azoto, carbono), AGUA, AR E OUTROS........

A FORÇA QUE UNE OS DOIS É A MESMA, É A LEI DA ATRAÇÃO.

A MATERIA DOS DOIS GRUPOS OU SEJA DAS PLANTAS, DO HOMEM, DOS ANIMAIS, DO MINERAL SÃO AS MESMAS SÓ QUE NO SERES ORGÂNICOS ELA ESTÁ ANIMALIZADA PELO PRINCÍPIO VITAL (O SEGREDINHO DA VIDA).

ESSE SEGREDO (PRINCIPIO VITAL) É ATIVO NO SER VIVENTE E EXTINTO NO MORTO.

CURIOSIDADE:
A QUÍMICA COMPÕE E RECOMPÕE OS CORPOS INORGÂNICOS (que não têm vida).
A MESMA QUÍMICA DECOMPÕE OS CORPOS ORGANICOS, POREM JAMAIS RECONSTITUIU UMA SIMPLES FOLHA MORTA
ISSO TRAZ A PROVA EVIDENTE DE QUE NO ORGANICO HÁ ALGUMA COISA QUE NÃO EXISTE NO INORGANICO.
SERIA O PRINCIPIO VITAL, O SEGREDO DA VIDA.

O PRINCIPIO VITAL TEM SUA FONTE NO FLUIDO COSMICO UNIVERSAL.

O PRINCIPIO VITAL É O MESMO PARA TODOS OS SERES, ELE SE MODIFICA SEGUNDO CADA ESPECIE.

O PRINCIPIO VITAL DA O MOVIMENTO E A ATIVIDADE A MATERIA E OS DISTINGUE DA MATERIA INERTE (da pedra, água)


A VIDA

É A UNIÃO DA MATERIA COM O PRINCIPIO VITAL.

OS SERES ORGANICOS CONTEM O PRINCIPIO VITAL LATENTE. QUANDO O ORGANISMO AGE SOBRE O PRINCIPIO VITAL PRODUZ O FLUIDO VITAL E O DESENVOLVIMENTO DO SER COMEÇA.

POR EXEMPLO: A ROSEIRA: QUANDO EXTRAIMOS A MUDA DELA O TALO ESTA CHEIO DE PRINCIPIO VITAL QUE VEIO DA PROPRIA ROSEIRA, EM CONTATO COM A TERRA, AGUA, E LUZ, ORGANISMO AGE SOBRE O PRINCIPIO VITAL PRODUZ O FLUIDO VITAL E A PLANTA COMEÇA A SE DESENVOLVER.

O OVO: EXISTE UM PRINCIPIO VITAL LATENTE, QUANDO ESSE OVO É COLOCADO PARA CHOCAR UM AGE SOBRE O OUTRO, PRODUZ O FLUIDO VITAL E O DESENVOLVIMENTO DO PINTINHO COMEÇA.

O FEIJÃO: OU QUALQUER SEMENTE. O PRINCIPIO DA VIDA ESTÁ LÁ. BASTA DARMOS CONDIÇÕES (AGUA, TERRA, LUZ) UM AGE SOBRE O OUTRO, PRODUZ O FLUIDO VITAL E COMEÇA O CRESCIMENTO DA PLANTA.

O MESMO ACONTECE COM OS ANIMAIS E O HOMEM.

O CONJUNTO DOS ORGÃOS INTERNOS (que são o coração, pulmão, os rins, o fígado, o baço, o pâncreas) CONSTITUI UM MECANISMO QUE RECEBE O IMPULSO DO PRINCIPIO VITAL, QUANDO OS ORGÃOS RECEBEM ESSA FORÇA, COMEÇAM A TRABALHAR E PRODUZEM O FLUIDO VITAL

A MORTE

A CAUSA DA MORTE NOS SERES ORGANICOS É A EXAUSTÃO, O ESGOTAMENTO DOS ORGÃOS.

OS ORGÃOS TRABALHAM EM HARMONIA, QUANDO ALGO DESTROI ESSE MECANISMO AS FUNÇÕES ACABAM E O PRINCIPIO VITAL FICA IMPOTENTE PARA PÔ-LO EM MOVIMENTO.

A CENTELHA DIVINA CRIADORA DA VIDA, NELE NÃO EXISTE MAIS.

QUANDO FALAMOS EM MORTE, ESTAMOS FALANDO DA MATERIA, DO CORPO, PORQUE O ESPIRITO NÃO MORRE JAMAIS.

COM A MORTE, A MATERIA SOFRE NOVAS COMBINAÇÕES E FORMAM OUTROS SERES, AS BACTERIAS, OS MICRO-ORGANISMOS E QUANDO ELES FIZEREM SEU PAPEL NA DECOMPOSIÇÃO DESTA MATERIA, TAMBEM DEIXAM DE EXISTIR E VOLTAM PARA A FONTE DE ONDE VIERAM DO FLUIDO COSMICO UNIVERSAL.


FLUIDO VITAL


A QUANTIDADE DE FLUIDO VARIA SEGUNDO AS ESPÉCIES E NÃO É CONSTANTE EM NENHUMA DELAS.
ISTO É JOÃO PODE TER MAIS FLUIDO QUE MARIA, JOAQUIM MENOS QUE JOÃO, E UM DIA JOÃO QUE TINHA BASTANTE PODE VIR A PRECISAR.

O FLUIDO VITAL PODE SE ESGOTAR E DEVEMOS SEMPRE RENOVA-LOS.

RENOVAMOS NOSSOS FLUIDOS ATRAVES DE NOSSA ALIMENTAÇÃO, TRANSFUSÃO DE SANGUE, DOAÇÃO DE ORGÃOS, ORAÇÕES, PALAVRAS DE OTIMISMO, MANTENDO NOSSO BOM ANIMO, EVITANDO AS TRISTEZAS PROFUNDAS, DEPRESSÕES, RENOVAMOS PELOS PASSES QUE NADA MAIS É QUE UMA TRANSMISSÃO DE FLUIDOS DE UMA PESSOA PARA A OUTRA.



INTELIGENCIA E INSTINTO

A INTELIGENCIA NÃO TEM NADA A VER COM O PRINCIPIO VITAL, TANTO QUE AS PLANTAS, OS ANIMAIS NÃO PENSAM E TEM PRINCIPIO VITAL.

UM CORPO PODE VIVER SEM INTELIGENCIA.(plantas e animais)
LOGO A INTELIGENCIA PRECISA DE UM CORPO E DE UM ESPIRITO.(humanos)

OS ANIMAIS AGEM PELO INSTINTO.

OS HOMENS AGEM PELO INSTINTO E PELA INTELIGENCIA.

O INSTINTO E A INTELIGENCIA NO HOMEM SE CONFUNDEM, MAS SE PRESTARMOS BEM ATENÇÃO SABEREMOS QUANDO USAMOS UM E OUTRO.

O INSTINTO É ATO INVOLUNTÁRIO.

EXEMPLO QUE O HOMEM USA O INSTINTO:

ANDAR É UM INSTINTIVO, AGORA PENSAR NO CAMINHO QUE ELE VAI TOMAR, VIRAR PARA DIREITA DUAS PARA ESQUERDA É A INTELIGENCIA.
SE ELE ESTA ANDANDO ELE VÊ UM BURACO, PULA.
SE ELE FOR PENSAR O QUE VAI FAZER, MANDAR ESSA INFORMAÇÃO PARA O CEREBRO PROCESSAR ELE JÁ CAIU NO BURACO.

A FONTE DA INTELIGENCIA ESTÁ NA INTELIGENCIA UNIVERSAL E É PROPRIA DE CADA UM.

O INSTINTO É UMA INTELIGENCIA NÃO RACIONAL, ELE AJUDA A PROVER AS NECESSIDADES (FOME, FRIO, CALOR, PERIGO, SEDE).

O INSTINTO NO HOMEM SEMPRE VAI EXISTIR MESMO QUE ELE FIQUE CADA VEZ MAIS INTELIGENCIA ELE FARÁ PARTE DELE.

É O INSTINTO CONDUZ O HOMEM COM MAIS SEGURANÇA DO QUE A RAZÃO. SÓ QUE O HOMEM ESCUTA MAIS A RAZAÕ DO QUE OS CONSELHOS DOS INSTINTOS.

A RAZÃO PERMITE O HOMEM A ESCOLHER (LIVRE ARBITRIO) E SEUS VICIOS E MÁS PAIXÕES, TENDENCIA AO MAL FAZ COM QUE ELE NEM SEMPRE ACERTE.

PESQUISA: Fluidos e Passes (Terezinha Oliveira)
Curso Básico de Espiritismo 1 Ano (FEESP)
A gênese capitulo X
Livro dos Espíritos capitulo IV
Segredinho da Vida (Terezinha Zizi da Silva)

Sistema pessimista, diabólico ou demoníaco

Entramos aqui numa outra ordem de idéias. Comprovada a intervenção de uma inteligência estranha, tratava-se de saber de que natureza era essa inteligência. Sem dúvida que o meio mais simples consistia em lhe perguntar isso. Algumas pessoas, contudo, entenderam que esse processo não oferecia garantias bastantes e assentaram de ver em todas as manifestações, unicamente, uma obra diabólica. Segundo essas pessoas, só o diabo, ou os demônios, podem comunicar-se. Conquanto fraco eco encontre hoje este sistema, é inegável que gozou, por algum tempo, de certo crédito, devido mesmo ao caráter dos que tentaram fazer que ele prevalecesse. Faremos, entretanto, notar que os partidários do sistema demoníaco não devem ser classificados entre os adversários do Espiritismo: ao contrario. Sejam demônios ou anjos, os seres que se comunicam são sempre seres incorpóreos. Ora, admitir a manifestação dos demônios é admitir a possibilidade da comunicação do mundo visível com o mundo invisível, ou, pelo menos, com uma parte deste último.

Compreende-se que a crença na comunicação exclusiva dos demônios, por muito irracional que seja, não houvesse parecido impossível, quando se consideravam os Espíritos como seres criados fora da humanidade. Mas, desde que se sabe que os Espíritos são simplesmente as almas dos que hão vivido, ela perdeu todo o seu prestígio e pode-se dizer que toda a verossimilhança, porquanto, admitida, o que se seguiria é que todas essas almas eram demônios, embora fossem as de um pai, de um filho, ou de um amigo e que nós mesmos, morrendo, nos tornaríamos demônios, doutrina pouco lisonjeira e nada consoladora para muita gente. Bem difícil será persuadir a uma mãe de que o filho querido, que ela perdeu e que lhe vem dar, depois da morte, provas de sua afeição e de sua identidade, é um suposto satanás. Sem dúvida, entre os Espíritos, há-os muito maus e que não valem mais do que os chamados demônios, por uma razão bem simples: a de que há homens muito maus que, pelo fato de morrerem, não se tornam bons. A questão está em saber se só eles podem comunicar-se conosco. Aos que assim pensem, dirigimos as seguintes perguntas:

1º Há ou não Espíritos bons e maus?
2º Deus é ou não mais poderoso do que os maus Espíritos, ou do que os demônios, se assim lhes quiserdes chamar?
3º Afirmar que só os maus se comunicam é dizer que os bons não o podem fazer. Sendo assim, uma de duas: ou isto se dá pela vontade, ou contra a vontade de Deus. Se contra a Sua vontade, é que os maus Espíritos podem mais do que Ele; se, por vontade Sua, por que, em Sua bondade, não permitiria Ele que os bons fizessem o mesmo, para contrabalançar a influência dos outros?4º Que provas podeis apresentar da impossibilidade em que estão os bons Espíritos de se comunicarem?
5º Quando se vos opõe a sabedoria de certas comunicações, respondeis que o demônio usa de todas as máscaras para melhor seduzir. Sabemos, com efeito, haver Espíritos hipócritas, que dão à sua linguagem um verniz de sabedoria; mas, admitis que a ignorância pode falsificar o verdadeiro saber e uma natureza má imitar a verdadeira virtude, sem deixar vestígio que denuncie a fraude?
6º Se só o demônio se comunica, sendo ele o inimigo de Deus e dos homens, por que recomenda que se ore a Deus, que nos submetamos à vontade de Deus, que suportemos sem queixas as tribulações da vida, que não ambicionemos as honras, nem as riquezas, que pratiquemos a caridade e todas as máximas do Cristo, numa palavra: que façamos tudo o que é preciso para lhe destruir o império, dele, demônio? Se tais conselhos o demônio é quem os dá, forçoso será convir em que, por muito manhoso que seja, bastante inábil é ele, fornecendo armas contra si mesmo.
7º Pois que os Espíritos se comunicam, é que Deus o permite. Em presença das boas e das más comunicações, não será mais lógico admitir-se que umas Deus as permite para nos experimentar e as outras para nos aconselhar ao bem?
8º Que direis de um pai que deixasse o filho à mercê dos exemplos e dos conselhos perniciosos, e que o afastasse de si; que o privasse do contacto com as pessoas que o pudessem desviar do mal? Ser-nos-á lícito supor que Deus procede como um bom pai não procederia, e que, sendo ele a bondade por excelência, faça menos do que faria um homem?
9º A Igreja reconhece como autênticas certas manifestações da Virgem e de outros santos, em aparições, visões, comunicações orais, etc. Essa crença não está em contradição com a doutrina da comunicação exclusiva dos demônios?

Acreditamos que algumas pessoas hajam professado de boa-fé essa teoria; mas, também cremos que muitas a adotaram unicamente com o fito de fazer que outras fugissem de ocupar-se com tais coisas, pelo temor das comunicações más, a cujo recebimento todos estão sujeitos. Dizendo que só o diabo se manifesta, quiseram aterrorizar, quase como se faz com uma criança a quem se diz: não toques nisto, porque queima. A intenção pode ter sido louvável; porém, o objetivo falhou, porquanto a só proibição basta para excitar a curiosidade e bem poucos são aqueles a quem o medo do diabo tolhe a iniciativa. Todos querem vê-lo, quando mais não seja para saber como é feito e muito espantados ficam por não o acharem tão feio como o imaginavam.

E não se poderia achar também outro motivo para essa teoria exclusiva do diabo? Gente há, para quem todos os que não lhe são do mesmo parecer estão em erro. Ora, os que pretendem que todas as comunicações provêm do demônio não serão a isso induzidos pelo receio de que os Espíritos não estejam de acordo com eles sobre todos os pontos, mais ainda sobre os que se referem aos interesses deste mundo, do que sobre os que concernem aos do outro? Não podendo negar os fatos, entenderam de apresentá-los sob forma apavorante. Esse meio, entretanto, não produziu melhor resultado do que os outros. Onde o temor do ridículo se mostre impotente, forçoso é se deixem passar as coisas.

O muçulmano, que ouvisse um Espírito falar contra certas leis do Alcorão, certamente acreditaria tratar-se de um mau Espírito. O mesmo se daria com um judeu, pelo que toca a certas práticas da lei de Moisés. Quanto aos católicos, de um ouvimos que o Espírito que se comunica não podia deixar de ser o diabo, porque se permitira a liberdade de pensar de modo diverso do dele, acerca do poder temporal, se bem que, em suma, o Espírito não houvesse pregado senão a caridade, a tolerância, o amor do próximo e a abnegação das coisas deste mundo, preceitos todos ensinados pelo Cristo.

Não sendo os Espíritos mais do que as almas dos homens e não sendo estes perfeitos, o que se segue é que há Espíritos igualmente imperfeitos, cujos caracteres se refletem nas suas comunicações. É fato incontestável haver, entre eles, maus, astuciosos, profundamente hipócritas, contra os quais preciso se faz que estejamos em guarda. Mas, porque se encontram no mundo homens perversos, é isto motivo para nos afastarmos de toda a sociedade? Deus nos outorgou a razão e o discernimento para apreciarmos, assim os Espíritos, como os homens. O melhor meio de se obviar aos inconvenientes da prática do Espiritismo não consiste em proibi-la, mas em fazêlo compreendido. Um receio imaginário apenas por um instante impressiona e não atinge a todos. A realidade claramente demonstrada, todos a compreendem.

Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, 1ª Parte, Cap. IV.

Tuesday, January 10, 2006

Sistema do charlatanismo

Entre os antagonistas do Espiritismo, muitos atribuem aqueles efeitos ao embuste, pela razão de que alguns puderam ser imitados. Segundo tal suposição, todos os espíritas seriam indivíduos embaídos (iludidos) e todos os médiuns seriam embaidores (trapaceiros), de nada valendo a posição, o caráter, o saber e a honradez das pessoas. Se isto merecesse resposta, diríamos que alguns fenômenos da Física também são imitados pelos prestidigitadores, o que nada prova contra a verdadeira ciência. Demais, pessoas há, cujo caráter afasta toda suspeita de fraude e preciso é não saber absolutamente viver e carecer de toda urbanidade, para que alguém ouse vir dizer-lhe na face que são cúmplices de charlatanismo.

Num salão muito respeitável, um senhor, que se dizia bem educado, tendo-se permitido fazer uma reflexão dessa natureza, ouviu da dona da casa o seguinte: "Senhor, pois que não estais satisfeito, à porta vos será restituído o que pagastes." E, com um gesto, lhe indicou o que de melhor tinha a fazer. Dever-se-á por isso afirmar que nunca houve abuso? Para crê-lo, fora mister admitir-se que os homens são perfeitos. De tudo se abusa, até das coisas mais santas. Por que não abusariam do Espiritismo? Porém, o mau uso que de uma coisa se faça não autoriza que ela seja prejulgada desfavoravelmente. Para chegar-se à verificação, que se pode obter, da boa-fé com que obram as pessoas, deve-se atender aos motivos que lhes determinam o procedimento. O charlatanismo não tem cabimento onde não há especulação.

Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, 1ª parte, Cap. IV.

Monday, January 09, 2006

O Espiritismo e a Ciência

Por sua natureza, a revelação espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica. Participa da primeira, porque foi providencial o seu aparecimento e não o resultado da iniciativa, nem de um desígnio premeditado do homem; porque os pontos fundamentais da doutrina provêm do ensino que deram os Espíritos encarregados por Deus de esclarecer os homens acerca de coisas que eles ignoravam, que não podiam aprender por si mesmos e que lhes importa conhecer, hoje que estão aptos a compreendê-las.

Participa da segunda, por não ser esse ensino privilégio de indivíduo algum, mas ministrado a todos do mesmo modo; por não serem os que o transmitem e os que o recebem seres passivos, dispensados do trabalho da observação e da pesquisa, por não renunciarem ao raciocínio e ao livre-arbítrio; porque não lhes é interdito o exame, mas, ao contrário, recomendado; enfim, porque a doutrina não foi ditada completa, nem imposta à crença cega; porque é deduzida, pelo trabalho do homem, da observação dos fatos que os Espíritos lhe põem sob os olhos e das instruções que lhe dão, instruções que ele estuda, comenta, compara, a fim de tirar ele próprio as ilações e aplicações. Numa palavra, o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem.

Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental. Fatos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege; depois, deduz-lhes as conseqüências e busca as aplicações úteis. Não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não apresentou como hipóteses a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina; concluiu pela existência dos Espíritos, quando essa existência ressaltou evidente da observação dos fatos, procedendo de igual maneira quanto aos outros princípios. Não foram os fatos que vieram a posteriori confirmar a teoria: a teoria é que veio subseqüentemente explicar e resumir os fatos. É, pois, rigorosamente exato dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação. As ciências só fizeram progressos importantes depois que seus estudos se basearam sobre o método experimental; até então, acreditou-se que esse método também só era aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas.

Citemos um exemplo. Passa-se no mundo dos Espíritos um fato muito singular, de que seguramente ninguém houvera suspeitado: o de haver Espíritos que se não consideram mortos. Pois bem, os Espíritos superiores, que conhecem perfeitamente esse fato, não vieram dizer antecipadamente: «Há Espíritos que julgam viver ainda a vida terrestre, que conservam seus gostos, costumes e instintos.» Provocaram a manifestação de Espíritos desta categoria para que os observássemos. Tendo-se visto Espíritos incertos quanto ao seu estado, ou afirmando ainda serem deste mundo, julgando-se aplicados às suas ocupações ordinárias, deduziu-se a regra. A multiplicidade de fatos análogos demonstrou que o caso não era excepcional, que constituía uma das fases da vida espírita; pode-se então estudar todas as variedades e as causas de tão singular ilusão, reconhecer que tal situação é sobretudo própria de Espíritos pouco adiantados moralmente e peculiar a certos gêneros de morte; que é temporária, podendo, todavia, durar semanas, meses e anos. Foi assim que a teoria nasceu da observação. O mesmo se deu com relação a todos os outros princípios da doutrina.

Assim como a Ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do princípio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual. Ora, como este último princípio é uma das forças da Natureza, a reagir incessantemente sobre o princípio material e reciprocamente, segue-se que o conhecimento de um não pode estar completo sem o conhecimento do outro. O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência, sem o Espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação. O estudo das leis da matéria tinha que preceder o da espiritualidade, porque a matéria é que primeiro fere os sentidos. Se o Espiritismo tivesse vindo antes das descobertas científicas, teria abortado, como tudo quanto surge antes do tempo.

Um último caráter da revelação espírita, a ressaltar das condições mesmas em que ela se produz, é que, apoiandose em fatos, tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação. Pela sua substância, alia-se à Ciência que, sendo a exposição das leis da Natureza, com relação a certa ordem de fatos, não pode ser contrária às leis de Deus, autor daquelas leis. As descobertas que a Ciência realiza, longe de o rebaixarem, glorificam a Deus; unicamente destroem o que os homens edificaram sobre as falsas idéias que formaram de Deus.

O Espiritismo, pois, não estabelece como princípio absoluto senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observação. Entendendo com todos os ramos da economia social, aos quais dá o apoio das suas próprias descobertas, assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam assumido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia, sem o que ele se suicidaria.

Deixando de ser o que é, mentiria à sua origem e ao seu fim providencial. Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.

A Gênese, Cap. I, 13 a 16 e 55.

Friday, January 06, 2006

Alma, Espírito, Perispírito, Fluidos (Universal e Vital) e Princípio Vital

Estes textos foram organizados através de trechos extraídos dos seguintes livros:
O Livro dos Espíritos – 1857
O Livro dos Médiuns – 1861
A Gênese – 1868
e ainda
O Espiritismo em sua mais simples expressão
O que é o Espiritismo
E Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas
todos codificados por Allan Kardec
Revista Espírita
(Jornal de Estudos Psicológicos publicado sobre a direção de Allan Kardec),
Ano VII, maio de 1864, pág. 138 e 139 - EDICEL.

Pesquisa feita por Elio Mollo - retirada do site: http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/Apost1_alma.doc

ALMA, PRINCÍPIO VITAL E FLUIDO VITAL
ALMA (do lat. anima; gr. anemos, sopro, emanação, ar).
Allan Kardec na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita (O LIVRO DOS ESPÍRITOS)

(...)

Segundo uns, a alma é o princípio da vida material orgânica. Não tem existência própria e se ani-quila com a vida: é o materialismo puro. Neste sentido e por comparação, diz-se de um instrumento ra-chado, que nenhum som mais emite: não tem alma. De conformidade com essa opinião, a alma seria efeito e não causa.

Pensam outros que a alma é o princípio da inteligência, agente universal do qual cada ser absorve uma certa porção. Segundo esses, não haveria em todo o Universo senão uma só alma a distribuir cente-lhas pelos diversos seres inteligentes durante a vida destes, voltando cada centelha, mortos ou seres, à fonte comum, a se confundir com o todo, como os regatos e os rios voltam ao mar, donde saíram.

Essa opinião difere da precedente em que, nesta hipótese, não há em nós somente matéria, sub-sistindo alguma coisa após a morte. Mas é quase como se nada subsistisse, porquanto, destituídos de individualidade, não mais teríamos consciência de nós mesmos. Dentro desta opinião, a alma universal seria Deus, e cada ser um fragmento da divindade. Simples variante do panteísmo.

Segundo outros, finalmente, a alma é um ser moral, distinto, independente da matéria e que con-serva sua individualidade após a morte. Esta acepção é, sem contradita, a mais geral, porque, debaixo de um nome ou de outro, a idéia desse ser que sobrevive ao corpo se encontra, no estado de crença instinti-va, não derivada de ensino, entre todos os povos, qualquer que seja o grau de civilização de cada um. Essa doutrina, segundo a qual a alma é causa e não efeito, é a dos espiritualistas.

Sem discutir o mérito de tais opiniões e considerando apenas o lado lingüístico da questão, diremos que estas três aplicações do termo alma correspondem a três idéias distintas, que demandariam, para serem expressas, três vocábulos diferentes. Aquela palavra tem, pois, tríplice acepção e cada um, do seu ponto de vista, pode com razão defini-la como o faz. O mal está em a língua dispor somente de uma palavra para exprimir três idéias. A fim de evitar todo equívoco, seria necessário restringir-se a acepção do termo alma a uma daquelas idéias. A escolha é indiferente; o que se faz mister é o entendimento entre todos reduzindo-se o problema a uma simples questão de convenção. Julgamos mais lógico tomá-lo na sua acepção vulgar e por isso chamamos

ALMA ao ser imaterial e individual que em nós reside e sobrevive ao corpo.

(...)

Concebe-se que, com uma acepção múltipla, o termo alma não exclui o materialismo, nem o panteísmo. O próprio espiritualismo pode entender a alma de acordo com uma ou outra das duas primeiras definições, sem prejuízo do Ser imaterial distinto, a que então dará um nome qualquer. Assim, aquela palavra não representa uma opinião: é um Proteu, que cada um ajeita a seu bel-prazer. Daí tantas disputas intermináveis.

Evitar-se-ia igualmente a confusão, embora usando-se do termo alma nos três casos, desde que se lhe acrescentasse um qualificativo especificando o ponto de vista em que se está colocado, ou a apli-cação que se faz da palavra. Esta teria, então, um caráter genérico, designando, ao mesmo tempo, o princípio da vida material, o da inteligência e o do senso moral, que se distinguiriam mediante um atributo, como os gases, por exemplo, que se distinguem aditando-se ao termo genérico as palavras hidrogênio, oxigênio ou azoto. Poder-se-ia, assim dizer, e talvez fosse o melhor,

 a alma vital - indicando o princípio da vida material;
 a alma intelectual - o princípio da inteligência, e
 a alma espírita - o da nossa individualidade após a morte.

Como se vê, tudo isto não passa de uma questão de palavras, mas questão muito importante quando se trata de nos fazermos entendidos. De conformidade com essa maneira de falar,

 a alma vital seria comum a todos os seres orgânicos: plantas, animais e homens;
 a alma intelectual pertenceria aos animais e aos homens; e
 a alma espírita somente ao homem.

O LIVRO DOS ESPÍRITOS, PARTE 2a - CAPÍTULO II, obra codificada por Allan Kardec

134. Que é a alma?
“Um Espírito encarnado.”

Observação do autor desta apostila: Note-se que a alma no mundo dos Espíritos utiliza-se do perispírito para a mani-festação da sua individualidade, assim, no mundo espiritual a alma + perispírito = Espírito, e, quando na Terra é um Espírito en-carnado, ou melhor, alma + perispírito + corpo físico = homem. (Ver O que é o Espiritismo - Cap. II, item 9, 10 e 14 - (obra de autoria de Allan Kardec).

134a) - Que era a alma antes de se unir ao corpo?
“Espírito.”

134b) - As almas e os Espíritos são, portanto, idênticos, a mesma coisa?
“Sim, as almas não são senão os Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteli-gentes que povoam o mundo invisível, os quais temporariamente revestem um invólucro carnal para se purificarem e esclarecerem.”

135. Há no homem alguma outra coisa além da alma e do corpo?
“Há o laço que liga a alma ao corpo.”

135a) - De que natureza é esse laço?
“Semimaterial, isto é, de natureza intermédia entre o Espírito e o corpo. É preciso que seja assim para que os dois se possam comunicar um com o outro. Por meio desse laço é que o Espírito atua sobre a matéria e reciprocamente.”

NOTA DE ALLAN KARDEC - O homem é, portanto, formado de três partes essenciais:
1o - o corpo ou ser material, análogo ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital;
2o - a alma, Espírito encarnado que tem no corpo a sua habitação;
3o - o princípio intermediário, ou perispírito, substância semimaterial que serve de primeiro envoltório ao Espírito e liga a alma ao corpo. Tais, num fruto, o gérmen, o perisperma e a casca.

136. A alma independe do princípio vital?
“O corpo não é mais do que envoltório, repetimo-lo constantemente.”

136a) - Pode o corpo existir sem a alma?
“Pode; entretanto, desde que cessa a vida do corpo, a alma o abandona. Antes do nascimento, ainda não há união definitiva entre a alma e o corpo; enquanto que, depois dessa união se haver estabelecido, a morte do corpo rompe os laços que o prendem à alma e esta o abandona. A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado de vida orgânica.”

136b) - Que seria o nosso corpo, se não tivesse alma?
“Simples massa de carne sem inteligência, tudo o que quiserdes, exceto um homem.”

149. Em que se torna alma no instante da morte?
“Torna-se Espírito; isto é, entra no mundo dos Espíritos que havia deixado momentaneamente”.

Observação do autor desta pesquisa: De alma + perispírito + corpo físico = homem a alma volta a ser Espírito, ou seja, alma + perispírito = Espírito. (Ver O que é o Espiritismo - Cap. II, item 9, 10 e 14 (obra de autoria de Allan Kardec).


O que é o Espiritismo - Cap. II, item 9, 10 e 14 - (obra codificada por Allan Kardec).

9. Quando a alma está ligada ao corpo, durante a vida, tem duplo envoltório: um pesado e grosseiro e perecível, que é o corpo; o outro fluídico, leve e indestrutível, chamado perispírito.

10. Existem, portanto, no homem, três elementos essenciais:

1o . A alma ou Espírito, princípio inteligente onde residem o pensamento, a vontade e o senso moral;
2o . O corpo, envoltório material que põe o Espírito em relação com o mundo exterior;
3o. O perispírito, invólucro fluídico, leve, imponderável, servindo de liame e de intermediário entre o Espírito e o Corpo.”

14. A união da alma, do perispírito, e do corpo material constitui o homem. A alma e o perispírito separados do corpo constituem a ser a que chamamos Espírito.

NOTA DE ALLAN KARDEC referindo-se aos itens acima citados:
 A alma é assim um ser simples;
 O Espírito um ser duplo, e
 O homem um ser triplo.

Seria portanto mais exato reservar a palavra alma para designar o princípio inteligente, e a palavra Espírito para o ser semimaterial formado desse princípio e do corpo fluídico. Mas como não se pode conceber o princípio inteligente sem ligação material, as palavras alma e Espírito são, no uso comum, indiferentemente empregadas uma pela outra; é a figura que consiste em tomar a parte pelo todo, da mesma forma que se diz que uma cidade é habitada por tantas almas, uma vila composta de tantas casas; porém, filosoficamente é essencial fazer-se a diferença.

Revista Espírita (Jornal de Estudos Psicológicos publicado sobre a direção de Allan Kardec),
Ano VII, maio de 1864, pág. 138 e 139 - EDICEL.

As palavras alma e Espírito, posto que sinônimas e empregadas indiferentemente, não exprimem exatamente a mesma idéia. A alma é, a bem dizer, o princípio inteligente, imperceptível e indefinido como o pensamento. No estado dos nossos conhecimentos, não podemos concebê-lo isolado da matéria de maneira absoluta. Posto que formado de matéria sutil, o perispírito, dele faz um ser limitado, definido e circunscrito a sua individualidade espiritual. De onde se pode formular esta proposição:

 A união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o HOMEM;
 A alma e o perispírito separados do corpo constituem o ser chamado ESPÍRITO.

Nas manifestações espíritas não é, pois, a alma que se apresenta só; esta sempre revestida de seu envoltório fluídico; esse envoltório é o necessário intermediário, através do qual ela age sobre a matéria compacta. Nas aparições não é a alma que se vê, mas o perispírito; do mesmo modo que quan-do se vê um homem vê-se seu corpo, mas não o pensamento, a força, o princípio que o faz agir.

Em resumo,

 A alma é um ser simples, primitivo;
 o Espírito o ser duplo e
 o homem o ser triplo.

Se se confundir o homem com roupas, teremos um ser quádruplo. Na circunstância de que se trata, o vocábulo Espírito é o que melhor corresponde à coisa expressa. Pelo pensamento representa-se um Espírito, mas não se representa uma alma.

ESPÍRITO (Do lat. spiritus, de spirare, soprar).
Allan Kardec, no livro Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas

No sentido especial da doutrina espírita, os espíritos são seres inteligentes da criação e povoam o Universo fora do mundo corpóreo.

O LIVRO DOS ESPÍRITOS, LIVRO 2o - CAPÍTULO I, obra codificada por Allan Kardec

76. Que definição se pode dar dos Espíritos?
“Pode dizer-se que os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Povoam o Universo, fora do mundo material.”( )

A natureza íntima dos Espíritos nos é desconhecida; eles mesmos não a podem definir, seja por ignorância, seja pela insuficiência da nossa linguagem. Somos a este respeito como cegos de nascença em face da luz. Segundo o que eles nos dizem, o Espírito não é material no sentido vulgar da palavra; não é tampouco imaterial em sentido absoluto, porque o Espírito é alguma coisa e a imaterialidade abso-luta seria o nada. O Espírito é, pois, formado de uma substância, mas da qual a matéria grosseira que impressiona nossos sentidos não pode dar-nos uma idéia. Pode-se compará-lo a uma chama ou centelha cujo brilho varia segundo o grau de purificação. Pode tomar todas as espécies de formas por meio do pe-rispírito de que está envolvido.
ESPÍRITO ELEMENTAR (ALMA)( )

Allan Kardec, no livro Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas (Vocabulário Espírita)

Espírito elementar - Espírito considerado em si mesmo e feita abstração de seu perispírito ou in-vólucro material.(Alma)


O LIVRO DOS ESPÍRITOS, LIVRO 1o - CAPÍTULO II, obra codificada por Allan Kardec

23. Que é o Espírito?(ALMA)
“O princípio inteligente do Universo.” (Ver O que é o Espiritismo - Cap. II, item 9, 10 e 14 - (obra codificada por Allan Kardec)).
PERISPÍRITO De per, em redor, e spiritus, espírito.
Allan Kardec, no livro Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas

Invólucro semimaterial do Espírito depois da sua separação do corpo. O Espírito o tira do mundo em que se acha e o troca ao passar de um a outro; ele é mais ou menos sutil ou grosseiro, segundo a natureza de cada globo. O perispírito pode tomar todas as formas à vontade do Espírito; ordinariamente ele assume a imagem que este tinha em sua última existência corporal.

Embora de natureza etérea, a substância do perispírito é suscetível de certas modificações que a tornam perceptível à nossa vista. É o que se dá nas aparições. Ela pode até, por sua união com o fluido de certas pessoas, torna-se temporariamente tangível, isto é, oferecer ao toque a resistência de um corpo sólido, como se vê nas aparições estereológicas ou palpáveis.

A natureza íntima do perispírito não é ainda conhecida; mas poder-se-ia supor que a matéria do corpo é composta de uma parte sólida e grosseira e de uma parte sutil e etérea; ao passo que a segunda persiste e segue o espírito. O espírito teria, assim, um duplo invólucro; a morte apenas o despojaria do mais grosseiro; o segundo, que constitui o perispírito, conservaria o tipo a forma da primeira, da qual ele é como a sombra; mas sua natureza essencialmente vaporosa permite ao Espírito modificar esta forma à sua vontade, torná-la visível, palpável ou impalpável.
O perispírito é, para o Espírito, o que o perisperma e para o germe do fruto. A amêndoa, despo-jada do seu invólucro lenhoso, encerra o germe sob o invólucro delicado do perisperma.
FLUIDO UNIVERSAL

Questão 27 de «O LIVRO DOS ESPÍRITOS»

Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, é a trindade Universal.

Deus é a inteligência suprema causa primária de todas as coisas.(q. 1 – LE)

O Espírito (Alma) é o princípio inteligente.

Para que o Espírito possa exercer ação sobre a matéria tem que se juntar o fluido universal, pois, é ele que desempenha o papel intermediário entre o Espírito e a matéria grosseira.

É lícito até certo ponto, classificar o fluido universal com o elemento material, porém, ele se dis-tingue, deste por propriedades especiais. Este fluido deve ser considerado como sendo um elemento se-mimaterial, pois, está situado entre o Espírito e a matéria.

Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza; é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.

FLUIDO VITAL

Allan Kardec na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita (O LIVRO DOS ESPÍRITOS)e em nota referindo-se as questões de 68 a 70 LE.

O fluido vital é o mesmo que o fluido elétrico animalizado, designado, também, sob os nomes de fluido magnético, fluido nervoso, etc.

A quantidade de fluido vital não é fator absoluto para todos os seres orgânicos; varia segundo as espécies e, não é fator constante, seja no mesmo indivíduo, seja nos indivíduos da mesma espécie. Exis-tem alguns que são, por assim dizer, saturados, enquanto outros dispõem apenas de uma quantidade suficiente; daí, para alguns, a vida é mais ativa, mais vibrante e, de certo modo superabundante.

A quantidade de fluido vital se esgota; pode a vir a ser insuficiente para manter a vida, se não renovado pela absorção e a assimilação das substância que o contém.

O fluido vital se transmite de um indivíduo para o outro. Aquele que tem o bastante, pode dá-lo aquele que tem pouco e, em certos casos restabelecer a vida prestes a se apagar.

PRINCÍPIO VITAL

O LIVRO DOS ESPÍRITOS – questões de 60 à 67

O princípio vital é a força motriz dos corpos orgânicos, comum a todos os seres vivos, desde as plantas até os homens.

Esse princípio reside no fluido universal. Ele é um elemento distinto e independente. É dele que o Espírito extrai o envoltório semimaterial que constitui o seu perispírito e, é por meio desse fluido que atua sobre a matéria.

Sua união com a matéria causa a animalização, ou seja, é o que dá vida a matéria e tem por fonte o fluido vital também chamado de fluido magnético ou fluido elétrico.
O princípio vital é modificado segundo as espécies. É ele que dá movimento e atividade a matéria orgânica, distinguindo-a da matéria inerte, porquanto o movimento da matéria não é a vida. Esse movi-mento ela o recebe não o dá.

Quando os seres orgânicos morrem sua matéria se decompõem indo formar outros organismos. O princípio vital retorna a massa de onde saiu.
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O Espiritismo é ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência, consiste nas relações que podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compre-ende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações.

Podemos assim defini-lo:
O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, da origem e do destino dos Espíritos, e de suas relações com o mundo corporal.

Allan Kardec, no livro «O QUE É O ESPIRITISMO», (Preâmbulo).

14. – Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental. Fatos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege; depois, deduz-lhes as conseqüências e busca as apli-cações úteis. Não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não apresentou como hi-póteses a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina; concluiu pela existência dos Espíritos, quando essa existên-cia ressaltou evidente da observação dos fatos, procedendo de igual maneira quanto aos outros princípios. Não foram os fatos que vieram a posteriori confirmar a teoria: a teoria é que veio sub-seqüentemente explicar e resumir os fatos. É, pois, rigorosamente exato dizer-se que o Espiritis-mo é uma ciência de observação e não produto da imaginação. As ciências só fizeram progres-sos importantes depois que seus estudos se basearam sobre o método experimental; até então, acreditou-se que esse método também só era aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas.


55. – Um último caráter da revelação espírita, a ressaltar das condições mesmas em que ela se produz, é que, apoiando-se em fatos, tem que ser, e não pode deixar de ser, essencial-mente progressiva, como todas as ciências de observação. Pela sua substância, alia-se à Ciência que, sendo a exposição das leis da Natureza, com relação a certa ordem de fatos, não pode ser contrária às leis de Deus, autor daquelas leis. As descobertas que a Ciência realiza, longe de o rebaixarem, glorificam a Deus; unicamente destroem o que os homens edificaram sobre as falsas idéias que formaram de Deus.
O Espiritismo, pois, não estabelece como princípio absoluto senão o que se acha eviden-temente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observação. Entendendo com todos os ramos da economia social, aos quais dá o apoio das suas próprias descobertas, assimilará sem-pre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam assumido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia, sem o que ele se suicidaria. Deixando de ser o que é, mentiria à sua origem e ao seu fim providencial. Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe de-monstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.

Allan Kardec, no livro «A GÊNESE», itens 14 e 55.